terça-feira, 3 de agosto de 2010

Depende de quem?

O prefeito de Capanema, Eslon Martins (PR), até agora tem-se mantido distante da disputa eleitoral ao Governo do Estado, muito embora Anivaldo Vale (PR), candidato a vice-governador de Ana Júlia – candidata do PT ao Governo do Pará, seja do mesmo partido político do gestor municipal. Essa distância, porém, pode ser apenas momentânea, e – quem sabe, aparente. Todavia, não se constitui segredo para ninguém o posicionamento que o prefeito vem assumindo, chegando – inclusive, a manifestá-lo publicamente. E que tem dito Eslon Martins, a maior liderança política de Capanema dos últimos anos? Primeiro: que seu compromisso é – antes de tudo, com Capanema. Segundo: por conta disso, em uma eleição desse nível, que convém ao líder a competência de optar pelo que seja melhor para o Município. Terceiro: que conveniências fora do âmbito político ficam descartadas, prevalecendo não as alianças de amizade, mas as de cunho estritamente “oficiais”, ou seja, aquelas que apontem não apenas para um presente imediato, mas – e principalmente, para um futuro promissor para Capanema. Posicionamentos como esse, a meu ver, não chegam a se configurar como oportunistas. Por isso, tenho-o aplaudido. Vejo, nisso, muito mais experiência política – fruto da sabedoria, do que simples esperteza de bom negociador. No caso de Capanema, Eslon Martins possui todos os predicados e atributos para manifestar apoio político à candidatura petista. Se outro motivo não existisse para tal manifestação, poderia – simplesmente, alegar fidelidade partidária. Mas – e todos sabem disso, inclusive o próprio PT, que, quem detém a maioria dos votos capanemenses é ele – Eslon Martins. Por isso, não basta apenas, que Anivaldo Vale venha a ser o vice-governador do Pará. Faz-se necessário – e já, que Ana Júlia honre os compromissos assumidos com Capanema antes de 3 de outubro. Essa – inclusive, tem sido a principal premissa, que vem adiando a entrada – para valer, do Município na reeleição da governadora paraense. E isso o prefeito tem dito com todas as letras, fazendo questão que todos saibam disso. Está errado? Claro, que não! Ora, todos sabem também que Eslon Martins é amicíssimo de Simão Jatene (PSDB). Então, por que não apoiá-lo? Porque Jatene – além de ser apenas uma esperança, vem de uma disputa partidária, que – internamente, arrebentou o PSDB do Pará, fragilizando politicamente a candidatura tucana ao Governo do Estado. A candidatura de Domingos Juvenil (PMDB), todos sabem também que não passa de arranjo eleitoral arrumado – às pressas, por Jader Barbalho (PMDB), a exemplo do que já aprontara na eleição passada, quando lançou na “cova dos leões” a figura de José Priante. Foi sempre assim. Ele nunca apoiou de primeira uma candidatura ao Governo do Estado, desde que inventaram o segundo turno. Agora, chegou a vez do caboclo da Vigia, ele, que nunca foi uma exponencial liderança política. Torço – sinceramente, para que, dessa vez, Jader Barbalho se dê muito mal. Em Capanema, a presença desse político só tem sido vista em placas de out-door, colocando – não sei por que, o Pará no topo. Dessa vez, Capanema tem a oportunidade de escolher bem o governador do Estado.
Vai depender de Eslon Martins.

Américo Leal – jornalista e escritor

A política dos órfãos

O ex-governador do Pará, Almir Gabriel – quem diria, perdeu a condição de “nosso paizão” da política praticada pelos tucanos de Paragominas e seus aliados. A expressão é de autoria do deputado estadual Bosco Gabriel (PSDB), cunhada no auge da campanha eleitoral de 2006, quando Almir era candidato – pela terceira vez, a governador do Estado. Essa, ele perdeu para Ana Júlia (PT), a governadora atual. Em linhas gerais, pode-se dizer que o inferno político de Almir Gabriel (e, por que não dizer de Simão Jatene e do PSDB paraense também?), começou exatamente aí. Derrotado, Almir Gabriel cuidou de encontrar culpados pelo fiasco eleitoral, esquecendo-se – quem sabe, de que o responsável pelo malogro não fora outro, senão o próprio candidato, o que – a meu ver, tornou a acusação contra Jatene totalmente infundada. Ainda assim, os efeitos da arrogância “almirista” não deixaram de atingir a maioria do tucanato papa-chibé, que – até hoje, ainda se vê enredada em tamanha confusão. Um fato, que – até bem pouco tempo, era impossível de acontecer, acabou se dando – e, sem nenhum constrangimento, tanto para Almir quanto para Jader Barbalho, que, publicamente, trocaram abraços e elogios, deixando muita gente perplexa. Eu, que – por diversas vezes, vi o ex-governador – nos palanques de Paragominas, principalmente, detrair o hoje deputado federal paraense, não pude conter o riso. Almir se associou a Jader, deixando Jatene e seus aliados um pouco perdidos. Mais confusão o tucano irá causar, quando for – se for, a Paragominas pedir voto para Domingos Juvenil, o candidato do PMDB ao governo do Estado. Que discurso Almir assumiria diante do eleitor paragominense, hein? Será que teria coragem de dizer a ele, que – todo esse tempo em que foi paparicado pelos políticos da coligação “União pelo Pará”, não passou de mera encenação? Seria tudo mentira aquilo que ele e seus antigos amigos proclamaram? Não sei. Esse “mingau de caroço” cabe ao eleitor elucidar. Enquanto isso, o ex-prefeito de Paragominas, Sidney Rosa (PSDB) encabeça a lista de candidatos a deputado estadual, que ainda contém outras figuras interessantes, como: Antonelo Tode, Dr. Ruy, Manoelzinho, Coronel Éder, Claudio Bicalho, Evandro Moreira e Raimundo Santos. O empresário madeireiro deve substituir Bosco Gabriel, que enjoou de ser deputado estadual, e se prepara para assumir a Prefeitura da cidade, na próxima eleição municipal, descartando o hoje vice-prefeito, Paulo Tocantins (PMDB), o Paulinho do Cartório, que – há muito, espera a oportunidade de – pelo menos, ver-se lançado candidato apoiado pelo grupo liderado pelo PSDB de Paragominas. Se Sidney se eleger, as chances do cartorário, de sentar na cadeira de prefeito, despencam para abaixo de zero, enquanto as de Bosco sobem para níveis estratosféricos. Mas – como diz a sabedoria popular, “o porco sabe o pau em que se esfrega”. Bem, depois da histórica “virada” de Almir Gabriel, na política paraense, tudo – agora, tudo se tornou possível de acontecer. E, se acontecer, não se constituirá em nenhuma novidade para ninguém, em nenhum espanto. Mas, e o eleitor de Paragominas, como fica? Ele votará e sem pedir explicação. Também, não há muito que explicar, mesmo! Um detalhe, porém, não pode ser – jamais, desprezado – tanto nessa, quanto em eleições futuras. Refiro-me à votação de Ana Júlia, na eleição passada, em Paragominas. Está certo que a disputa foi com Almir Gabriel. Esse ano, é com Simão Jatene, mas, o maior cabo eleitoral da mulher ainda é o presidente Lula.
Urge – e como, eleger-se um novo “paizão” da política comandada pelos tucanos de Paragominas.

Américo Leal – jornalista e escritor

Bons exemplos de maus políticos

O Tribunal Regional Eleitoral do Pará acaba de cassar os mandatos de três prefeitos por crimes eleitorais, cometidos na campanha de 2008: abuso de poder econômico, fraude e compra de votos. Os cassados são: Joaquim Nogueira Neto (PMDB), prefeito de Dom Eliseu; Vildemar Rosa Fernandes (PR), conhecido por Nenê Lopes, de São Miguel do Guamá; e Evaldo Cunha (PT), de Ipixuna do Pará. Os efeitos das cassações foram imediatos, assumindo, respectivamente, no lugar dos cassados, os candidatos colocados em segundo lugar, naquelas eleições: Gersilon Silva da Gama (PR), Márcia Cavalcante (PMDB) e José Orlando (PSDB). Como em uma “bola de cristal”, as cassações dos gestores municipais estão a nos dizer, que a Justiça Eleitoral está cada vez mais atenta e – por conta disso, exercendo – verdadeiramente, e com rigor mais apurado, o seu papel, que não é apenas o de fiscalizar, mas, também, o de tornar as disputas eleitorais equilibradas, para que não haja vantagens desleais entre os candidatos. Com base em regras previamente estabelecidas, a Justiça Eleitoral vem aplicando a Lei, que – na verdade, constitui-se muito mais em um manual de ética do que um punhado de punições. A grande questão é que – quando se trata de eleição, os partidos políticos – aqueles, que, em tese, deveriam ser os principais interessados em incentivar o estabelecimento de uma disputa limpa são os primeiros a transgredir as regras do jogo. Ora, partidos políticos são comandados por pessoas, que, na maioria das vezes, são os próprios candidatos ou indicados por eles, afilhados políticos dos chefões das legendas. Em casos desse tipo, não há muito que fazer, uma vez que os interesses se casam perfeitamente. Se houvesse seriedade, por parte dos partidos políticos, na escolha de seus candidatos, que necessidade haveria de se ter a lei da ficha limpa? Nenhuma. Mas, não. Para tentar barrar os maus políticos das disputas eleitorais, fez-se necessário, que parte da população brasileira se mobilizasse e tomasse a iniciativa, para que uma coisa tão simples pudesse alcançar as dimensões que alcançou e chegasse, como um grito de liberdade, ao Congresso Nacional, onde – mesmo com tanto apelo popular, ainda teve de enfrentar e vencer a resistência de muitos políticos. Mesmo assim, ainda pairam muitas incertezas sobre a aplicação dessa lei. Eu – mesmo, confesso-me um pouco desconfiado com a eficácia dela. As candidaturas estão todas aí, misturadas – apesar da quantidade de pedidos de impugnação de algumas delas. Não sei. Tenho minhas dúvidas, e prefiro aguardar os resultados dos julgamentos desses pedidos. Alguns candidatos – velhas “raposas” da política paraense, andam a se gabar, confiantes – certamente, no poder político (ou, quem sabe, econômico), que acumularam, ao longo de muitos anos de exercício de mandatos, e – na maioria das vezes, debochando da própria lei, sentindo-se imunes aos efeitos dela. Os crimes eleitorais praticados pelos três prefeitos cassados são anteriores ao estabelecimento da nova lei, mas – nem por isso, deixam de ser bons exemplos para o eleitor paraense. Infelizmente, esses bons exemplos da Justiça Eleitoral tem pouca visibilidade, repercutem quase nada entre as camadas menos esclarecidas politicamente da população brasileira. Joaquim Neto, Nenê Lopes e Evaldo Cunha receberam o castigo que mereceram. Com a lei da ficha limpa, torna-se muito provável, que, nas próximas eleições municipais, estejamos livres desses políticos.
Maus políticos, por sinal.

Américo Leal – escritor e jornalista

Alguém viu a oposição, hem?

A visita da governadora Ana Júlia a Capanema, na semana passada, para entregar patrulhas mecanizadas a dez municípios da região nordeste do Pará, trouxe um novo alento aos prefeitos das cidades contempladas com o benefício das máquinas, mas – em especial, ao prefeito Eslon Martins. Para quem – como eu, acompanhou atentamente os discursos, viu que o momento era propício não somente para festa, mas – e principalmente, para prestação de contas e desabafos. E, quem deu o tom dos pronunciamentos foi o prefeito de Capanema, que, alegre – primeiro, pela ratificação da liderança política do município na região, e depois, pelo reconhecimento, por parte da governadora, de que, quem dá as cartas do jogo político, em Capanema, é o gestor municipal, traçou uma breve retrospectiva do estado em que o município se encontrava, quando ele assumiu o comando da Prefeitura. Mais uma vez, o prefeito não deixou por menos, citando o descontrole das contas públicas, que levou à falência a máquina administrativa; o descalabro da gestão municipal, que gerou prejuízos incalculáveis ao erário público e atraso de salários dos servidores municipais; o abandono da cidade, que, entregue aos urubus, não conseguia respirar, tamanha a fedentina. Aliás, que, em quantidade, os urubus daqui superavam os do Vêr-o-Pêso. Da mesma forma, a governadora foi sincera ao dizer como recebeu do governo passado o Estado. Ambos, em situação mais ou menos semelhante, tiveram que arcar com muitas dificuldades para colocar a casa em ordem. Mas conseguiram. E, agora, os primeiros resultados positivos dessa ação começam a aparecer. É óbvio, que problemas sempre hão de existir, mas nada que não possa ser resolvido. É tudo uma questão de tempo, conforme filosofava um amigo meu, muito chegado a essas coisas de sabedoria. Como disse, no palanque, um experiente político, há mais de vinte anos, que não se via uma ação governamental de tamanha envergadura. Para quem recebeu um município defraudado e desfalcado de máquinas e equipamentos, uma patrulha mecanizada como essa já se constitui em uma enorme ajuda. E a tal oposição, hem? Ficou em maus lençóis, sem saber o que fazer ou a quem recorrer, correndo feito barata tonta. E, quando percebeu que não poderia participar da festa, tratou de inventar uma empresa – em cima da hora, uma miniatura de estaleiro cujo armador é uma mistura de político e empresário. Não deu muito certo. A governadora até que chegou lá, na tal inauguração da oficina naval, fez lá o seu rapapé, bebeu uma garrafinha de água mineral e um cafezinho, mas sempre com a atenção voltada para onde estavam os votos, de que ela tanto precisa para se reeleger, porque, ali, eles não se encontravam. Na verdade, o que havia muito ali era ex, e só. Mas, mesmo assim, eles ainda ficaram muito contentes. E, como não podiam nem se aproximar da festa verdadeira, mandaram os deles irem lá. Soltaram uma pontinha para meia dúzia de desvalidos, que, entre quase cinco mil pessoas, esforçaram-se muito para fazer seus gritos chegarem lá em cima. Ninguém ligou! Só mesmo um repórter amador foi quem registrou o sussurro – porque ele também já estava previamente acertado com a malta, e – aí, saíram, no dia seguinte, tentando explicar o seu próprio fracasso, o que também não foi possível alcançar, porque, no fundo, eles sabem o quanto estão derrotados. O medo deles é com a reação do povo, quando descobrir que essa turma não possui nada de bom para oferecer a ele. É só conversa fiada, coisa que minha finada mãe – há muito, já batizava de papo furado. Ana Júlia deseja, sim, apoio político, mas de quem o possui para dar. Ela não quer saber de barcos ou de lorota – quer votos, porque são eles, que irão reconduzi-la ao poder.
E, voto não se fabrica, conquista-se.

Américo Leal – escritor e jornalista
MTE no 2.003/PA

Fator decisivo

O PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) paraense continua fazendo das suas. Se viva estivesse, minha mãe – certamente, estaria a refletir, de acordo com a lógica, que lhe era muito peculiar: “é um chove, não molha, que enjoa!” Santa sabedoria! Todos se lembram, que, na eleição passada, o partido, no primeiro turno, teve candidato próprio – José Priante, e somente no segundo turno, disputando com Almir Gabriel (PSDB), foi que apoiou Ana Júlia (PT). Vencido o pleito, Jader Barbalho e seus comandados trataram de arrumar os bagulhos, e – de malhas e bagagens, embarcaram no “regatão” do governo do Estado, onde, aliás, estão até hoje, beneficiando-se dos cargos. Agora, já no final do mandato petista, os peemedebistas acharam de inventar um troço, que eles estão chamando de “fator decisivo”, o que corresponde a dizer, que, para onde penderem, decidem a eleição. Disseram- lhes também que eles detêm a força política no Pará, que Jader – se quiser, sai candidato ao governo do Estado e ganha a eleição. Ora, se o PMDB tem tanta certeza disso, por que dá trela ao que o PT diz e faz? Se Jader fosse candidato, o partido não estaria no desespero, que está. Falta-lhe espaço de manobra, porque Jader mente tanto quanto Ana Júlia. Falta ao PMDB a credibilidade, atrás da qual o PT também anda correndo. Nessa semana, o deputado estadual, Parsifal Pontes (PMDB), saiu-se com a de que, na eleição passada, Jader foi o pai da candidatura Ana Júlia. Conversa mais besta, mas que serve para mostrar o quanto o partido é pernicioso, e quanto a política, quando praticada dessa forma, torna-se mesquinha e repugnante. Com essa tirada, Parsifal deixa à mostra, expõe, cruelmente, as podres entranhas de um poder corroído por tantas e tamanhas mazelas. Onde fica o tal Pará grandioso? Coitada de nossa gente! Saiu-se muito mal o deputado lá de Tucuruí, mas nos deixa grande lição, ao nos permitir avançar na percepção de nossas escolhas. Pobre Pará, que até para ser dividido está! Sinto-me sem forças. Mais uma vez, o que se tem à vista, é o loteamento do governo, a disputa por cargos, a fim de agasalhar, na máquina administrativa, os apadrinhados de hoje e de sempre, como forma de se manter na política, onde, só se sobrevive por conta de influências e arranjos. Uma boa dose de união pelo Estado – nesse momento, não seria má idéia. Mas como isso se tornou difícil. Governo e oposição jamais vão se entender, cada um em busca de uma hegemonia, que lhes permita se situar no plano político sem a ameaça de riscos ao exercício do poder. A oposição, que já foi ou busca o poder, não permite concessões, e a disputa fica cada vez mais acirrada. São os ossos da democracia participativa, onde todos tem direito de opinar – direta ou indiretamente. O voto, mesmo sem grandes incentivos, ainda pode se tornar uma ferramenta importante, desde que utilizada com inteligência, após fria e descomprometida análise das candidaturas. Nesse caso, o passado político dos candidatos tem muito a dizer, e – aqui, não custa nada se buscar fazer a diferença entre experiência no exercício de cargos públicos e safadeza pura e simples praticada, quando no exercício desses mesmos cargos. Há pessoas, nesse Estado, que, desde que entraram na política, sempre conseguiram se eleger sucessivamente, apesar das “encrencas” em que andaram se metendo. E olha, não foram poucas. O eleitor, infelizmente, tem decidido essa questão, mas – quase sempre, em seu próprio prejuízo.
Convém, mais vez, esperar para se conferir os resultados.

Américo Leal – escritor e jornalista
MTE n0 2.003/PA

Há vagas

A estatura – não a física, é claro, de um ser humano pode ser medida pelo tamanho de seu pensar. É por isso, que existem grandes homens e homens medíocres. Estes não se sobressaem. São esquecidos. Suas obras não são vistas nem lembradas, porque tem a duração de um segundo, e o que dizem não passa de retórica mal enjambrada. Porque demoram a raciocinar, e – quando o fazem, deixam um rastro despido de sentido lógico e coerente, é que sempre permanecem à margem. É de seu feitio, a trama mordaz, o jogo de encrencas, e – em vez de se preocuparem com as coisas grandiosas, interessam-se mais pela cozinha alheia. Minha mãe, que já não está mais aqui conosco, costumava chamar essas pessoas de abelhudas. Vivem a tecer futricas, articulando a malícia, bisbilhotando a vida do vizinho. Para eles, a política só pode ser exercida ao nível do rodapé, porque são nanicos de juízo. Aqui, torno a invocar a sabedoria materna, que já me dizia para não comer “caroço de pupunha”, para que eu não ficasse rude. Os antigos costumavam recomendar também que evitássemos o miolo do caroço de tucumã, que, segundo eles, causava efeito semelhante. Ultimamente, tenho encontrado, em Capanema, muitos seres humanos, que, não cresceram intelectualmente. Encaram os fatos por uma ótica bastante simplista. Para essas pessoas, tudo se torna simples e de fácil compreensão. A sociedade – para eles, acaba se tornando em uma extensão de suas casas, onde a cidade nada mais é do que o quintal de suas residências. E, em um mundo fantasioso como esse, as mazelas sociais não passam de especulações “filosóficas”, resolvidas sempre com um estalar de dedos ou em um piscar d’olhos. Cegos a uma realidade latente, acabam concebendo uma suposta realidade, onde a bravata e a fanfarra tomam o lugar da lucidez, e – portanto, a sociedade em que vivem, vive à revelia, renegada a plano secundário. Nesse cosmos quixotesco, é que pululam os vendedores de receitas. Na verdade, são muito mais que isso – são falsos líderes, oportunistas, sempre dispostos a dar o bote. São medíocres, que vicejam à borda das charnecas. Mas, ainda que se lamente, e para não dizer que não lhes fizeram justiça, tiveram sua chance. E, como em toda sociedade humana, a luta sempre foi – e sempre será pelo poder, um dia nele estiveram. Mas, por não sabê-lo exercer com dignidade, foram – democraticamente, escorraçados dele pelo povo, que disse, pelo exercício do voto, “não” a esses pequenos, que, inconformados, autoritariamente, transformaram-se – dia para a noite, na palmatória do mundo. Andam sempre atentos, prontos para atacar, desde que lhe dêem a chance de encontrar uma mão desavisada. É assim que se comportam esses senhores. Mentem, difamam, caluniam. Tentam se livrar de um passado recente, que, a todo instante, vive a condená-los. São filhos do acaso. Nasceram para o rés. Por isso, rastejam. A sociedade, porém, reconhece seu tempo, e – a seu modo, saberá mantê-los à distância segura. A construção de um novo tempo exige a presença de seres humanos hábeis, ligeiros no pensar, grandiosos no agir. Há pouco que a obra começou, mas ainda há tempo para quem quiser participar.
Nessa construção, ainda há vagas para muitos.

Américo Leal – escritor e jornalista
MTE n0 2.003/PA

Reprise

O filme que o editor do Correio de Capanema, Ademyr Jr., disse, em artigo nesse jornal (CAPÍTULO II – O FILME QUE JÁ ASSISTI ANTES), já ter assistido, eu também já vi. Como já disse, minha chegada a essa cidade é recente, mas venho de Paragominas, município, que, de 2003 a 2006, teve seu pior prefeito. Joel Pereira dos Santos, eleito em 2002 pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) acabou o mandato sem partido. Sem moral também. Escorraçado pelo eleitor, que – daí por diante, o derrotou em sucessivas tentativas de se eleger vereador. Ele só não destruiu o município, porque já o encontrou bastante combalido, mas o ajudou a ficar pior. Em quatro anos de desgoverno, o gestor não construiu nenhuma obra de vulto, além de um PM-Box, que, ainda assim, consumiu uma quantidade astronômica de material de construção. Nem reforma e/ou ampliação de prédios públicos ele fez. Em 2007, após o descalabro político-administrativo passado, assumiu a Prefeitura o peessedebista, Sidney Rosa. O novo gestor teve de se dobrar e desdobrar para colocar a casa em ordem. Não apenas a administração pública municipal, encontrada em frangalhos (três meses de salários atrasados, dívidas, muitas dívidas), mas o próprio município, quase sumido do mapa. Sidney teve de enfrentar os maus hábitos do povo, trazidos do prefeito anterior. Não deixou por menos, apesar de toda chiadeira dos maus acostumados de antes, que não se conformavam com a perda de privilégios, mamatas e come-dorme. Na verdade, essas pessoas não estavam nem um pouco interessadas em – pelo menos, colaborar com o desenvolvimento do município. Queriam, sim, jogar a cidade na descredibilidade, patinhando na inadimplência. Fingiam esquecer o passado logo ali. Sidney teve de adotar medidas duras, até “anti-populares”, mas não se deixou intimidar. “Limpou o terreno”, implantando uma administração austera, que – hoje, dá bons frutos. Mas não foi fácil e tão simples assim. Levou tempo. A princípio, muitos não souberam entender o “espírito” da coisa. A esses, o prefeito não deu ouvidos, mas não lhes deixou sem respostas: trabalhou, trabalhou muito para reconstruir a cidade. Esse “filme” pode ser visto em muitos lugares, inclusive aqui, em Capanema, onde é exibido a céu aberto. Há muitos atores – péssimos, por sinal, que insistem em querer agradar a plateia, afagando-lhe a baixa-estima, na tentativa mesquinha de fazê-la enxergar pela torpe visão que possuem. São ignóbeis. Manipuladores do mal. Apostadores do quanto pior, melhor. Merecedores de desprezo e de silêncio. Minha finada mãe, certa vez, mandou fazer e levou para minha professora, na escola, uma palmatoria. Disso, a velha entendia. Mas, o que ela não sabia, era que a tal palmatória não serviria somente para corrigir a mim. Hoje, já não se pode mais usar “ferramentas” desse tipo, mas, quanta falta estão a fazer!
Que venha o próximo filme!

Américo Leal – escritor e jornalista
MTE n0 2.003/PA