terça-feira, 3 de agosto de 2010

Depende de quem?

O prefeito de Capanema, Eslon Martins (PR), até agora tem-se mantido distante da disputa eleitoral ao Governo do Estado, muito embora Anivaldo Vale (PR), candidato a vice-governador de Ana Júlia – candidata do PT ao Governo do Pará, seja do mesmo partido político do gestor municipal. Essa distância, porém, pode ser apenas momentânea, e – quem sabe, aparente. Todavia, não se constitui segredo para ninguém o posicionamento que o prefeito vem assumindo, chegando – inclusive, a manifestá-lo publicamente. E que tem dito Eslon Martins, a maior liderança política de Capanema dos últimos anos? Primeiro: que seu compromisso é – antes de tudo, com Capanema. Segundo: por conta disso, em uma eleição desse nível, que convém ao líder a competência de optar pelo que seja melhor para o Município. Terceiro: que conveniências fora do âmbito político ficam descartadas, prevalecendo não as alianças de amizade, mas as de cunho estritamente “oficiais”, ou seja, aquelas que apontem não apenas para um presente imediato, mas – e principalmente, para um futuro promissor para Capanema. Posicionamentos como esse, a meu ver, não chegam a se configurar como oportunistas. Por isso, tenho-o aplaudido. Vejo, nisso, muito mais experiência política – fruto da sabedoria, do que simples esperteza de bom negociador. No caso de Capanema, Eslon Martins possui todos os predicados e atributos para manifestar apoio político à candidatura petista. Se outro motivo não existisse para tal manifestação, poderia – simplesmente, alegar fidelidade partidária. Mas – e todos sabem disso, inclusive o próprio PT, que, quem detém a maioria dos votos capanemenses é ele – Eslon Martins. Por isso, não basta apenas, que Anivaldo Vale venha a ser o vice-governador do Pará. Faz-se necessário – e já, que Ana Júlia honre os compromissos assumidos com Capanema antes de 3 de outubro. Essa – inclusive, tem sido a principal premissa, que vem adiando a entrada – para valer, do Município na reeleição da governadora paraense. E isso o prefeito tem dito com todas as letras, fazendo questão que todos saibam disso. Está errado? Claro, que não! Ora, todos sabem também que Eslon Martins é amicíssimo de Simão Jatene (PSDB). Então, por que não apoiá-lo? Porque Jatene – além de ser apenas uma esperança, vem de uma disputa partidária, que – internamente, arrebentou o PSDB do Pará, fragilizando politicamente a candidatura tucana ao Governo do Estado. A candidatura de Domingos Juvenil (PMDB), todos sabem também que não passa de arranjo eleitoral arrumado – às pressas, por Jader Barbalho (PMDB), a exemplo do que já aprontara na eleição passada, quando lançou na “cova dos leões” a figura de José Priante. Foi sempre assim. Ele nunca apoiou de primeira uma candidatura ao Governo do Estado, desde que inventaram o segundo turno. Agora, chegou a vez do caboclo da Vigia, ele, que nunca foi uma exponencial liderança política. Torço – sinceramente, para que, dessa vez, Jader Barbalho se dê muito mal. Em Capanema, a presença desse político só tem sido vista em placas de out-door, colocando – não sei por que, o Pará no topo. Dessa vez, Capanema tem a oportunidade de escolher bem o governador do Estado.
Vai depender de Eslon Martins.

Américo Leal – jornalista e escritor

A política dos órfãos

O ex-governador do Pará, Almir Gabriel – quem diria, perdeu a condição de “nosso paizão” da política praticada pelos tucanos de Paragominas e seus aliados. A expressão é de autoria do deputado estadual Bosco Gabriel (PSDB), cunhada no auge da campanha eleitoral de 2006, quando Almir era candidato – pela terceira vez, a governador do Estado. Essa, ele perdeu para Ana Júlia (PT), a governadora atual. Em linhas gerais, pode-se dizer que o inferno político de Almir Gabriel (e, por que não dizer de Simão Jatene e do PSDB paraense também?), começou exatamente aí. Derrotado, Almir Gabriel cuidou de encontrar culpados pelo fiasco eleitoral, esquecendo-se – quem sabe, de que o responsável pelo malogro não fora outro, senão o próprio candidato, o que – a meu ver, tornou a acusação contra Jatene totalmente infundada. Ainda assim, os efeitos da arrogância “almirista” não deixaram de atingir a maioria do tucanato papa-chibé, que – até hoje, ainda se vê enredada em tamanha confusão. Um fato, que – até bem pouco tempo, era impossível de acontecer, acabou se dando – e, sem nenhum constrangimento, tanto para Almir quanto para Jader Barbalho, que, publicamente, trocaram abraços e elogios, deixando muita gente perplexa. Eu, que – por diversas vezes, vi o ex-governador – nos palanques de Paragominas, principalmente, detrair o hoje deputado federal paraense, não pude conter o riso. Almir se associou a Jader, deixando Jatene e seus aliados um pouco perdidos. Mais confusão o tucano irá causar, quando for – se for, a Paragominas pedir voto para Domingos Juvenil, o candidato do PMDB ao governo do Estado. Que discurso Almir assumiria diante do eleitor paragominense, hein? Será que teria coragem de dizer a ele, que – todo esse tempo em que foi paparicado pelos políticos da coligação “União pelo Pará”, não passou de mera encenação? Seria tudo mentira aquilo que ele e seus antigos amigos proclamaram? Não sei. Esse “mingau de caroço” cabe ao eleitor elucidar. Enquanto isso, o ex-prefeito de Paragominas, Sidney Rosa (PSDB) encabeça a lista de candidatos a deputado estadual, que ainda contém outras figuras interessantes, como: Antonelo Tode, Dr. Ruy, Manoelzinho, Coronel Éder, Claudio Bicalho, Evandro Moreira e Raimundo Santos. O empresário madeireiro deve substituir Bosco Gabriel, que enjoou de ser deputado estadual, e se prepara para assumir a Prefeitura da cidade, na próxima eleição municipal, descartando o hoje vice-prefeito, Paulo Tocantins (PMDB), o Paulinho do Cartório, que – há muito, espera a oportunidade de – pelo menos, ver-se lançado candidato apoiado pelo grupo liderado pelo PSDB de Paragominas. Se Sidney se eleger, as chances do cartorário, de sentar na cadeira de prefeito, despencam para abaixo de zero, enquanto as de Bosco sobem para níveis estratosféricos. Mas – como diz a sabedoria popular, “o porco sabe o pau em que se esfrega”. Bem, depois da histórica “virada” de Almir Gabriel, na política paraense, tudo – agora, tudo se tornou possível de acontecer. E, se acontecer, não se constituirá em nenhuma novidade para ninguém, em nenhum espanto. Mas, e o eleitor de Paragominas, como fica? Ele votará e sem pedir explicação. Também, não há muito que explicar, mesmo! Um detalhe, porém, não pode ser – jamais, desprezado – tanto nessa, quanto em eleições futuras. Refiro-me à votação de Ana Júlia, na eleição passada, em Paragominas. Está certo que a disputa foi com Almir Gabriel. Esse ano, é com Simão Jatene, mas, o maior cabo eleitoral da mulher ainda é o presidente Lula.
Urge – e como, eleger-se um novo “paizão” da política comandada pelos tucanos de Paragominas.

Américo Leal – jornalista e escritor

Bons exemplos de maus políticos

O Tribunal Regional Eleitoral do Pará acaba de cassar os mandatos de três prefeitos por crimes eleitorais, cometidos na campanha de 2008: abuso de poder econômico, fraude e compra de votos. Os cassados são: Joaquim Nogueira Neto (PMDB), prefeito de Dom Eliseu; Vildemar Rosa Fernandes (PR), conhecido por Nenê Lopes, de São Miguel do Guamá; e Evaldo Cunha (PT), de Ipixuna do Pará. Os efeitos das cassações foram imediatos, assumindo, respectivamente, no lugar dos cassados, os candidatos colocados em segundo lugar, naquelas eleições: Gersilon Silva da Gama (PR), Márcia Cavalcante (PMDB) e José Orlando (PSDB). Como em uma “bola de cristal”, as cassações dos gestores municipais estão a nos dizer, que a Justiça Eleitoral está cada vez mais atenta e – por conta disso, exercendo – verdadeiramente, e com rigor mais apurado, o seu papel, que não é apenas o de fiscalizar, mas, também, o de tornar as disputas eleitorais equilibradas, para que não haja vantagens desleais entre os candidatos. Com base em regras previamente estabelecidas, a Justiça Eleitoral vem aplicando a Lei, que – na verdade, constitui-se muito mais em um manual de ética do que um punhado de punições. A grande questão é que – quando se trata de eleição, os partidos políticos – aqueles, que, em tese, deveriam ser os principais interessados em incentivar o estabelecimento de uma disputa limpa são os primeiros a transgredir as regras do jogo. Ora, partidos políticos são comandados por pessoas, que, na maioria das vezes, são os próprios candidatos ou indicados por eles, afilhados políticos dos chefões das legendas. Em casos desse tipo, não há muito que fazer, uma vez que os interesses se casam perfeitamente. Se houvesse seriedade, por parte dos partidos políticos, na escolha de seus candidatos, que necessidade haveria de se ter a lei da ficha limpa? Nenhuma. Mas, não. Para tentar barrar os maus políticos das disputas eleitorais, fez-se necessário, que parte da população brasileira se mobilizasse e tomasse a iniciativa, para que uma coisa tão simples pudesse alcançar as dimensões que alcançou e chegasse, como um grito de liberdade, ao Congresso Nacional, onde – mesmo com tanto apelo popular, ainda teve de enfrentar e vencer a resistência de muitos políticos. Mesmo assim, ainda pairam muitas incertezas sobre a aplicação dessa lei. Eu – mesmo, confesso-me um pouco desconfiado com a eficácia dela. As candidaturas estão todas aí, misturadas – apesar da quantidade de pedidos de impugnação de algumas delas. Não sei. Tenho minhas dúvidas, e prefiro aguardar os resultados dos julgamentos desses pedidos. Alguns candidatos – velhas “raposas” da política paraense, andam a se gabar, confiantes – certamente, no poder político (ou, quem sabe, econômico), que acumularam, ao longo de muitos anos de exercício de mandatos, e – na maioria das vezes, debochando da própria lei, sentindo-se imunes aos efeitos dela. Os crimes eleitorais praticados pelos três prefeitos cassados são anteriores ao estabelecimento da nova lei, mas – nem por isso, deixam de ser bons exemplos para o eleitor paraense. Infelizmente, esses bons exemplos da Justiça Eleitoral tem pouca visibilidade, repercutem quase nada entre as camadas menos esclarecidas politicamente da população brasileira. Joaquim Neto, Nenê Lopes e Evaldo Cunha receberam o castigo que mereceram. Com a lei da ficha limpa, torna-se muito provável, que, nas próximas eleições municipais, estejamos livres desses políticos.
Maus políticos, por sinal.

Américo Leal – escritor e jornalista

Alguém viu a oposição, hem?

A visita da governadora Ana Júlia a Capanema, na semana passada, para entregar patrulhas mecanizadas a dez municípios da região nordeste do Pará, trouxe um novo alento aos prefeitos das cidades contempladas com o benefício das máquinas, mas – em especial, ao prefeito Eslon Martins. Para quem – como eu, acompanhou atentamente os discursos, viu que o momento era propício não somente para festa, mas – e principalmente, para prestação de contas e desabafos. E, quem deu o tom dos pronunciamentos foi o prefeito de Capanema, que, alegre – primeiro, pela ratificação da liderança política do município na região, e depois, pelo reconhecimento, por parte da governadora, de que, quem dá as cartas do jogo político, em Capanema, é o gestor municipal, traçou uma breve retrospectiva do estado em que o município se encontrava, quando ele assumiu o comando da Prefeitura. Mais uma vez, o prefeito não deixou por menos, citando o descontrole das contas públicas, que levou à falência a máquina administrativa; o descalabro da gestão municipal, que gerou prejuízos incalculáveis ao erário público e atraso de salários dos servidores municipais; o abandono da cidade, que, entregue aos urubus, não conseguia respirar, tamanha a fedentina. Aliás, que, em quantidade, os urubus daqui superavam os do Vêr-o-Pêso. Da mesma forma, a governadora foi sincera ao dizer como recebeu do governo passado o Estado. Ambos, em situação mais ou menos semelhante, tiveram que arcar com muitas dificuldades para colocar a casa em ordem. Mas conseguiram. E, agora, os primeiros resultados positivos dessa ação começam a aparecer. É óbvio, que problemas sempre hão de existir, mas nada que não possa ser resolvido. É tudo uma questão de tempo, conforme filosofava um amigo meu, muito chegado a essas coisas de sabedoria. Como disse, no palanque, um experiente político, há mais de vinte anos, que não se via uma ação governamental de tamanha envergadura. Para quem recebeu um município defraudado e desfalcado de máquinas e equipamentos, uma patrulha mecanizada como essa já se constitui em uma enorme ajuda. E a tal oposição, hem? Ficou em maus lençóis, sem saber o que fazer ou a quem recorrer, correndo feito barata tonta. E, quando percebeu que não poderia participar da festa, tratou de inventar uma empresa – em cima da hora, uma miniatura de estaleiro cujo armador é uma mistura de político e empresário. Não deu muito certo. A governadora até que chegou lá, na tal inauguração da oficina naval, fez lá o seu rapapé, bebeu uma garrafinha de água mineral e um cafezinho, mas sempre com a atenção voltada para onde estavam os votos, de que ela tanto precisa para se reeleger, porque, ali, eles não se encontravam. Na verdade, o que havia muito ali era ex, e só. Mas, mesmo assim, eles ainda ficaram muito contentes. E, como não podiam nem se aproximar da festa verdadeira, mandaram os deles irem lá. Soltaram uma pontinha para meia dúzia de desvalidos, que, entre quase cinco mil pessoas, esforçaram-se muito para fazer seus gritos chegarem lá em cima. Ninguém ligou! Só mesmo um repórter amador foi quem registrou o sussurro – porque ele também já estava previamente acertado com a malta, e – aí, saíram, no dia seguinte, tentando explicar o seu próprio fracasso, o que também não foi possível alcançar, porque, no fundo, eles sabem o quanto estão derrotados. O medo deles é com a reação do povo, quando descobrir que essa turma não possui nada de bom para oferecer a ele. É só conversa fiada, coisa que minha finada mãe – há muito, já batizava de papo furado. Ana Júlia deseja, sim, apoio político, mas de quem o possui para dar. Ela não quer saber de barcos ou de lorota – quer votos, porque são eles, que irão reconduzi-la ao poder.
E, voto não se fabrica, conquista-se.

Américo Leal – escritor e jornalista
MTE no 2.003/PA

Fator decisivo

O PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) paraense continua fazendo das suas. Se viva estivesse, minha mãe – certamente, estaria a refletir, de acordo com a lógica, que lhe era muito peculiar: “é um chove, não molha, que enjoa!” Santa sabedoria! Todos se lembram, que, na eleição passada, o partido, no primeiro turno, teve candidato próprio – José Priante, e somente no segundo turno, disputando com Almir Gabriel (PSDB), foi que apoiou Ana Júlia (PT). Vencido o pleito, Jader Barbalho e seus comandados trataram de arrumar os bagulhos, e – de malhas e bagagens, embarcaram no “regatão” do governo do Estado, onde, aliás, estão até hoje, beneficiando-se dos cargos. Agora, já no final do mandato petista, os peemedebistas acharam de inventar um troço, que eles estão chamando de “fator decisivo”, o que corresponde a dizer, que, para onde penderem, decidem a eleição. Disseram- lhes também que eles detêm a força política no Pará, que Jader – se quiser, sai candidato ao governo do Estado e ganha a eleição. Ora, se o PMDB tem tanta certeza disso, por que dá trela ao que o PT diz e faz? Se Jader fosse candidato, o partido não estaria no desespero, que está. Falta-lhe espaço de manobra, porque Jader mente tanto quanto Ana Júlia. Falta ao PMDB a credibilidade, atrás da qual o PT também anda correndo. Nessa semana, o deputado estadual, Parsifal Pontes (PMDB), saiu-se com a de que, na eleição passada, Jader foi o pai da candidatura Ana Júlia. Conversa mais besta, mas que serve para mostrar o quanto o partido é pernicioso, e quanto a política, quando praticada dessa forma, torna-se mesquinha e repugnante. Com essa tirada, Parsifal deixa à mostra, expõe, cruelmente, as podres entranhas de um poder corroído por tantas e tamanhas mazelas. Onde fica o tal Pará grandioso? Coitada de nossa gente! Saiu-se muito mal o deputado lá de Tucuruí, mas nos deixa grande lição, ao nos permitir avançar na percepção de nossas escolhas. Pobre Pará, que até para ser dividido está! Sinto-me sem forças. Mais uma vez, o que se tem à vista, é o loteamento do governo, a disputa por cargos, a fim de agasalhar, na máquina administrativa, os apadrinhados de hoje e de sempre, como forma de se manter na política, onde, só se sobrevive por conta de influências e arranjos. Uma boa dose de união pelo Estado – nesse momento, não seria má idéia. Mas como isso se tornou difícil. Governo e oposição jamais vão se entender, cada um em busca de uma hegemonia, que lhes permita se situar no plano político sem a ameaça de riscos ao exercício do poder. A oposição, que já foi ou busca o poder, não permite concessões, e a disputa fica cada vez mais acirrada. São os ossos da democracia participativa, onde todos tem direito de opinar – direta ou indiretamente. O voto, mesmo sem grandes incentivos, ainda pode se tornar uma ferramenta importante, desde que utilizada com inteligência, após fria e descomprometida análise das candidaturas. Nesse caso, o passado político dos candidatos tem muito a dizer, e – aqui, não custa nada se buscar fazer a diferença entre experiência no exercício de cargos públicos e safadeza pura e simples praticada, quando no exercício desses mesmos cargos. Há pessoas, nesse Estado, que, desde que entraram na política, sempre conseguiram se eleger sucessivamente, apesar das “encrencas” em que andaram se metendo. E olha, não foram poucas. O eleitor, infelizmente, tem decidido essa questão, mas – quase sempre, em seu próprio prejuízo.
Convém, mais vez, esperar para se conferir os resultados.

Américo Leal – escritor e jornalista
MTE n0 2.003/PA

Há vagas

A estatura – não a física, é claro, de um ser humano pode ser medida pelo tamanho de seu pensar. É por isso, que existem grandes homens e homens medíocres. Estes não se sobressaem. São esquecidos. Suas obras não são vistas nem lembradas, porque tem a duração de um segundo, e o que dizem não passa de retórica mal enjambrada. Porque demoram a raciocinar, e – quando o fazem, deixam um rastro despido de sentido lógico e coerente, é que sempre permanecem à margem. É de seu feitio, a trama mordaz, o jogo de encrencas, e – em vez de se preocuparem com as coisas grandiosas, interessam-se mais pela cozinha alheia. Minha mãe, que já não está mais aqui conosco, costumava chamar essas pessoas de abelhudas. Vivem a tecer futricas, articulando a malícia, bisbilhotando a vida do vizinho. Para eles, a política só pode ser exercida ao nível do rodapé, porque são nanicos de juízo. Aqui, torno a invocar a sabedoria materna, que já me dizia para não comer “caroço de pupunha”, para que eu não ficasse rude. Os antigos costumavam recomendar também que evitássemos o miolo do caroço de tucumã, que, segundo eles, causava efeito semelhante. Ultimamente, tenho encontrado, em Capanema, muitos seres humanos, que, não cresceram intelectualmente. Encaram os fatos por uma ótica bastante simplista. Para essas pessoas, tudo se torna simples e de fácil compreensão. A sociedade – para eles, acaba se tornando em uma extensão de suas casas, onde a cidade nada mais é do que o quintal de suas residências. E, em um mundo fantasioso como esse, as mazelas sociais não passam de especulações “filosóficas”, resolvidas sempre com um estalar de dedos ou em um piscar d’olhos. Cegos a uma realidade latente, acabam concebendo uma suposta realidade, onde a bravata e a fanfarra tomam o lugar da lucidez, e – portanto, a sociedade em que vivem, vive à revelia, renegada a plano secundário. Nesse cosmos quixotesco, é que pululam os vendedores de receitas. Na verdade, são muito mais que isso – são falsos líderes, oportunistas, sempre dispostos a dar o bote. São medíocres, que vicejam à borda das charnecas. Mas, ainda que se lamente, e para não dizer que não lhes fizeram justiça, tiveram sua chance. E, como em toda sociedade humana, a luta sempre foi – e sempre será pelo poder, um dia nele estiveram. Mas, por não sabê-lo exercer com dignidade, foram – democraticamente, escorraçados dele pelo povo, que disse, pelo exercício do voto, “não” a esses pequenos, que, inconformados, autoritariamente, transformaram-se – dia para a noite, na palmatória do mundo. Andam sempre atentos, prontos para atacar, desde que lhe dêem a chance de encontrar uma mão desavisada. É assim que se comportam esses senhores. Mentem, difamam, caluniam. Tentam se livrar de um passado recente, que, a todo instante, vive a condená-los. São filhos do acaso. Nasceram para o rés. Por isso, rastejam. A sociedade, porém, reconhece seu tempo, e – a seu modo, saberá mantê-los à distância segura. A construção de um novo tempo exige a presença de seres humanos hábeis, ligeiros no pensar, grandiosos no agir. Há pouco que a obra começou, mas ainda há tempo para quem quiser participar.
Nessa construção, ainda há vagas para muitos.

Américo Leal – escritor e jornalista
MTE n0 2.003/PA

Reprise

O filme que o editor do Correio de Capanema, Ademyr Jr., disse, em artigo nesse jornal (CAPÍTULO II – O FILME QUE JÁ ASSISTI ANTES), já ter assistido, eu também já vi. Como já disse, minha chegada a essa cidade é recente, mas venho de Paragominas, município, que, de 2003 a 2006, teve seu pior prefeito. Joel Pereira dos Santos, eleito em 2002 pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) acabou o mandato sem partido. Sem moral também. Escorraçado pelo eleitor, que – daí por diante, o derrotou em sucessivas tentativas de se eleger vereador. Ele só não destruiu o município, porque já o encontrou bastante combalido, mas o ajudou a ficar pior. Em quatro anos de desgoverno, o gestor não construiu nenhuma obra de vulto, além de um PM-Box, que, ainda assim, consumiu uma quantidade astronômica de material de construção. Nem reforma e/ou ampliação de prédios públicos ele fez. Em 2007, após o descalabro político-administrativo passado, assumiu a Prefeitura o peessedebista, Sidney Rosa. O novo gestor teve de se dobrar e desdobrar para colocar a casa em ordem. Não apenas a administração pública municipal, encontrada em frangalhos (três meses de salários atrasados, dívidas, muitas dívidas), mas o próprio município, quase sumido do mapa. Sidney teve de enfrentar os maus hábitos do povo, trazidos do prefeito anterior. Não deixou por menos, apesar de toda chiadeira dos maus acostumados de antes, que não se conformavam com a perda de privilégios, mamatas e come-dorme. Na verdade, essas pessoas não estavam nem um pouco interessadas em – pelo menos, colaborar com o desenvolvimento do município. Queriam, sim, jogar a cidade na descredibilidade, patinhando na inadimplência. Fingiam esquecer o passado logo ali. Sidney teve de adotar medidas duras, até “anti-populares”, mas não se deixou intimidar. “Limpou o terreno”, implantando uma administração austera, que – hoje, dá bons frutos. Mas não foi fácil e tão simples assim. Levou tempo. A princípio, muitos não souberam entender o “espírito” da coisa. A esses, o prefeito não deu ouvidos, mas não lhes deixou sem respostas: trabalhou, trabalhou muito para reconstruir a cidade. Esse “filme” pode ser visto em muitos lugares, inclusive aqui, em Capanema, onde é exibido a céu aberto. Há muitos atores – péssimos, por sinal, que insistem em querer agradar a plateia, afagando-lhe a baixa-estima, na tentativa mesquinha de fazê-la enxergar pela torpe visão que possuem. São ignóbeis. Manipuladores do mal. Apostadores do quanto pior, melhor. Merecedores de desprezo e de silêncio. Minha finada mãe, certa vez, mandou fazer e levou para minha professora, na escola, uma palmatoria. Disso, a velha entendia. Mas, o que ela não sabia, era que a tal palmatória não serviria somente para corrigir a mim. Hoje, já não se pode mais usar “ferramentas” desse tipo, mas, quanta falta estão a fazer!
Que venha o próximo filme!

Américo Leal – escritor e jornalista
MTE n0 2.003/PA

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Lula ganhou

Ricardo Noblat (14/06/2010)

A primeira fase da sucessão de Lula acabou no último fim de semana com a indicação de José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva para candidatos do PSDB, do PT e do PV e demais partidos coligados. A segunda e última fase deverá ter seu desfecho no dia 3 de outubro, data da eleição. Quem ganhou a primeira? Dilma, claro. Quero dizer: Lula.
Que presidente da República seria tão atrevido a ponto de antecipar a escolha de seu candidato em mais de um ano e afrontar a lei durante todo esse período fazendo propaganda direta ou indireta dele? Não foi apenas a popularidade recorde de Lula que o levou a se comportar assim. Também sua formação.
Como líder sindical, aprendeu a tirar vantagem em tudo, mesmo em negociações destinadas ao fracasso. Aprendeu a correr riscos. E a ganhar ou perder mandando às favas todos os escrúpulos. Como único patrocinador da candidatura de Dilma, ele decidiu testar os limites da Justiça Eleitoral.
Ou ele saía cedo por aí, com Dilma debaixo do braço, apresentando-a como a mãe das principais realizações do seu governo, executiva exemplar e apta a dar continuidade a sua obra ou não teria chances de emplacá-la como candidata – nem fora dos partidos nem dentro. Pagou para ver se a Justiça barraria seus passos. A Justiça comeu mosca.
Lorota a história de que Lula não dispunha de outros nomes para sucedê-lo depois da queda de José Dirceu da Casa Civil e de Antonio Palocci do ministério da Fazenda. Patrus Ananias, por exemplo, foi o ministro do Bolsa Família. É mineiro como Dilma. E tem votos. Assim com Tarso Genro, Marta Suplicy e Aloizio Mercadante.
Mas Lula preferiu Dilma, uma petista recente sem experiência eleitoral. Primeiro porque ela é mulher – e tal condição poderá ser vista com simpatia pelos brasileiros. Segundo porque Dilma demonstrou irrestrita fidelidade a ele. E terceiro porque se ela vencer, Deus e o mundo atribuirão a vitória a Lula, unicamente a ele.
Se Dilma perder... Bem, a culpa será dela. E uma derrota facilitaria o retorno de Lula daqui a quatro anos. Hoje, parece improvável que perca. É o que admitem (em segredo) oito entre cada 10 políticos de todos os partidos. Jamais um candidato a presidente contou com cabo eleitoral tão forte e disposto e com um conjuntura tão favorável.
Em conversa com amigos, Lula confidencia coisas do tipo: “Quero somente ver se o Serra tem sangue de barata. Só se tiver para não reagir às provocações que lhe farei”. Ou então: “Eu me empenharei em eleger a Dilma de uma forma como nunca fiz nem para mim mesmo”. Ou ainda: “Eleger Dilma é uma questão de honra para mim”.
O grau de felicidade dos brasileiros está em alta. Lula tem sido feliz na venda da idéia de que é o único inventor do país da bonança. Entre 2002 e este ano, o salário-mínimo pulou de US$80 para US$ 280; o Produto Interno Bruto (PIB) foi de US$ 500 bilhões para US$ 1 trilhão; e 30 milhões de pobres ascenderam à classe média.
Somente um imprevisto, um clamoroso erro ou sucessivos erros de pequeno e médio porte serão capazes de imprimir um novo rumo a uma eleição com toda a pinta de que acabou antes de começar para valer. Erros podem ser evitados poupando Dilma de protagonizar situações que escapem ao controle dos seus atentos guias.
Nada de se expor em debates – pelo menos até que se distancie de Serra nas pesquisas de intenção de voto. Caso isso ocorra, comparecer a debates para quê? Nada de entrevistas a não ser para veículos confiáveis e jornalistas preocupados antes de tudo com fontes de informações a serem abertas no próximo governo.
O mais recomendável seria que Dilma se reservasse para brilhar nos comerciais e programas de propaganda eleitoral de campanha. Ainda assim como uma espécie de segundo sol. Se ela se limitar a exaltar Lula e a ser exaltada por ele, e defender vagas idéias consensuais, só perderá se o destino lhe for ingrato.
Presidência é destino.

A guerra dos mundos

Ricardo Noblat

Somos campeões mundiais em número de horas destinadas a navegar na internet. O twitter entre nós é um fenômeno, como foi o Orkut. Estudiosos estrangeiros se espantam com o elevado número de comentários postados em sites e blogs daqui. A sociabilidade do brasileiro é real e virtual. A rede, assim, poderá servir para que votemos melhor.

Certo? Não necessariamente. Até desconfio que não. Grande parte das pessoas que escrevem ou comentam o que é postado na rede manifesta seu inconformismo com o comportamento dos tradicionais meios de comunicação – jornais, emissoras de rádio e de televisão. Principalmente em ano eleitoral. É bom lembrar que há eleições a cada dois anos. O inconformismo, assim, seria permanente. E cresce veloz.

Dá-se cada vez mais como verdade absoluta na web que nós, jornalistas, manipulamos os fatos para que sirvam aos interesses mesquinhos e inconfessáveis de nossos patrões – esses, por sua vez, aliados incondicionais de poderosos grupos econômicos que exploram o país e o povo. A crise que atinge os jornais por toda parte é apresentada como sinal irrecusável da falta de confiança popular no seu conteúdo.

Ora, a crise dos jornais tem várias causas. E a verdade, na maioria das vezes, costuma estar no meio. Mas não é disso que quero tratar. Como titular de um blog há seis anos e refém de um computador durante 10 a 12 horas por dia de domingo a domingo, digo sem medo de errar que se reproduzem na web, sobretudo em espaços reservados ao jornalismo, os mesmos defeitos apontados nos veículos convencionais de comunicação.

Vou além: de fato, tais defeitos se agravam com freqüência. Porque o mais acessado meio de comunicação do planeta é um território sem leis e sem códigos de ética. (O ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal, considera a internet o último refúgio de liberdade do homem.) E também porque o anonimato é permitido. Ah, quantos crimes cruéis não são cometidos a cada segundo na rede devido ao anonimato.

E ouse falar contra o anonimato. Você será acusado de pugnar contra a livre manifestação de pensamento e correrá o risco de se tornar alvo de uma campanha difamatória. Ouse sugerir algum tipo de regulamento que discipline o que pode ser postado. Ou pelo menos o que não deve. Com toda a certeza você será execrado como o mais vil dos inimigos do direito universal ao livre acesso à informação e à opinião.

Fira injustamente a imagem de alguém ou de alguma instituição no jornal, televisão ou rádio. O atingido apelará para a Justiça. E você será julgado. Na internet, não. Porque se você conseguir identificar quem o ofendeu e decidir processá-lo haverá quem se encarregue de clonar a ofensa e de disseminá-la rede a dentro. Para cada anônimo identificado e processado surgirão milhares de dispostos a encampar a ofensa.

A internet servirá nas eleições para que candidatos e partidos tentem, legitimamente, atrair apoios e votos por meio de mensagens e debates. Esse será, digamos, o lado sadio do uso da rede. Mas ela servirá também para a sistemática e organizada tentativa de se destruir reputações e espalhar rumores e mentiras. Não duvide: acabará prevalecendo o lado negativo do uso da rede.

Sob a proteção do anonimato ou da falsa identidade e com a ajuda de militantes voluntários ou pagos, partidos e candidatos já começaram a travar o jogo sujo na internet. Ao cabo do processo eleitoral, seria curioso comparar o grau de veracidade do que foi postado na rede com o grau de veracidade do que foi veiculado por jornais, emissoras de televisão e de rádio. Mais do que curioso: poderia ser educativo.

O que alguns chamam de Partido da Imprensa Golpista tem seu equivalente no Partido da Internet Golpista. A sigla é a mesma – PIG. O mal que podem causar é o mesmo. Com algumas diferenças: um está em declínio, o outro em expansão. Um tem CNPJ, o outro nem CPF.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Serra é o cara

Se tivesse sido Dilma, e não Serra, a dizer, que, se eleita presidente da República, convidaria o PSDB e o PV para compor o governo, e a grande imprensa brasileira - em sua maioria, serrista declarada, teria caído em cima dela, considerando a declaração da candidata como mais uma de suas besteiras. Para essa imprensa, mestra na arte de observar, Dilma - até agora, só cometeu erros, porque não possui experiência política de campanha. Serra, não. Ele é o cara, o candidato politicamente correto, porque tem experiência, é mais preparado, e tudo que diz e faz é visto como estratégia de campanha. Serra, o estrategista. Essa mesma imprensa já começa a vê-lo não como candidato de oposição, mas como o candidato pós-Lula, que - sabiamente, vai dar não apenas continuidade ao governo Lula, mas, também, ampliá-lo, ou seja, melhorá-lo. Quando Lula diz que o Brasil não pode regredir, essa imprensa vê nisso uma clara referência a um possível governo peessedebista. Interessante, que ela mesma é crítica ferrenha de um pleito plebiscitário. Chegou a culpar Lula pela derrocada da candidatura Ciro, e agora se assanha toda, tentando intrigar PT e PMDB. Essa imprensa de grande influência é paulista, profundamente "bairrista", café, qua ainda torce por uma aliança mineira, leite, em uma comovente tentativa de ressussistar a velha política café-com-leite de antes, onde, quem detinha o comando político do país eram os grandes barões de então. Esquece-se, porém, que não há mais espaço para um volta bem ao molde do passado recente. É chegada a hora dos coronéis deixarem as paredes. É hora da democracia prevalecer, a democracia - governo do povo, pelo povo e para o povo.
É hora do voto prevalecer.

Pensar, pra quê?

Depois de passar bom tempo ocupada com a desistência de Ciro à Presidência da República, a "mídia" paulista - principalmente, que, durante esse tempo, foi incansável em culpar o presidente Lula pelo fiasco dessa tentativa de candidatura, agora se volta contra Dilma. Aliás, que esse "voltar-se contra" não é de agora, não. E, para constatar o que digo, basta que se volte um pouquinho só ao passado, momento em que Lula manifestou o desejo que Dilma fosse a candidata do PT a sua sucessão. Pronto. Desse dia em diante, foi um inferno. Nada podia ser dito, que lembrasse o nome da então ministra da Casa Civil. Qualquer referência a ela era tida como uma ameaça à democracia. Mais recentemente, chegaram até a dizer, que o presidente debochava da legislação eleitoral, alguns fazendo referência a um "lulismo", que parece existir somente na cabeça deles. Não deram a menor importância ao fato de que, se esse tal "lulismo" existisse mesmo, o presidente poderia muito bem ter chamado para si a responsabilidade de um terceiro mandato. Com a popularidade em alta que sempre teve, Lula poderia - fazendo coro a outros presidentes da América do Sul, ter forçado um terceiro mandato. Não quis, em uma das maiores demonstrações democráticas já vistas nesses país. Enquanto isso, essa mesma "mídia" sofria, com a "indecisão" de Serra - e ainda espera ver Aécio, na chapa do paulista. Torcia para que Serra se declarasse logo candidato, porque estava ficando sem discurso. Até que Serra largou o governo de São Paulo, e se declarou candidato. Que alívio! Daí pra frente, deu-se um processo de sucessivas análise das candidaturas, com Serra no controle total, não apenas de sua campanha, mas, também, no controle de suas emoções, daí, porque, até agora, não ter cometido um erro sequer. Tudo que diz, acerta. Tudo que faz, está certo. Não há erros para Serra. Ele faz tudo certinho, dentro dos conformes, do figurino. E Dilma? Essa, coitada, se depender dessa "mídia", já perdeu a eleição. Desde que saiu da condição de ministra, que só tem feito besteria! Erra em tudo. Até na maneira de se vestir! Ricardo Noblat, Clovis Rossi, Fernando de Barros e Silva, Fernando Rodrigues, Eliane Cantanhede, e até Ruy Castro e Carlos Heitor Cony, esse grupo da pesada, joga no time de Serra, em quem só enxergam virtudes e acertos. isso tudo e mais a enorme quantidade de matérias produzidas pelos jornalistas de São Paulo - principalmente, pródigos em meter seus bedelhos parciais, nos conteúdos das reportagens. O jogo político possui desses lances, mas, se depender dessa "imprensa", a única coisa que Lula pode deixar de herança à Dilma, são os erros.
Votos, nem pensar.

domingo, 25 de abril de 2010

O silêncio do falador

"Enfim, o impacto que a desistência de Ciro e o eventual uso na campanha de seu conhecido destempero terão a consistência e o prazo de validade de uma maionese. Ou seja, um dia ou dois." Parágrafo final do artigo, "Ciro e o rebuliço artificial", de Clóvis Rossi (São Paulo/Folhapress). O deputado federal, Ciro Gomes, não desistiu de ser candidato à Presidência da República. Ele foi - ou será, vetado por seu partido, e - por causa disso, ficará impedido de disputar a eleição. Levantamento do PSB diz, que, se a candidatura de Ciro fosse efetivada, teria apoio partidário do Ceará, Amazonas, Paraíba, Alagoas e Minas Gerais. Ainda assim, em Minas, o partido tem estreitas ligações políticas com o PSDB. Então, que sobraria a Ciro? Nada, praticamente. Em São Paulo, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, o partido cobra migalhas do PT, como: liberação de partidos para coligar com ele e palanques duplos para Dilma, a candidata petista. Na Paraíba, os socialistas pedem neutralidade petista ao governo do Estado - o partido tem candidato próprio, e o PT apóia o candidato do PMDB. Frente a diminuto quadro, sou levado a concordar com Rossi, que atribui à fraqueza do bedate eleitoral o "frisson" jornalístico provocado pelo "impedimento" de Ciro. Imagine-se, se - hoje, Marina Silva (PV/AC), deixasse de ser candidata! Ora, quem se encarregou de deixar o candidato na "banheira" foi seu próprio partido. Está claro, porém, que, na disputa política, a "desistência" de Ciro - teoricamente, joga a favor de Dilma. Lula torcia para que isso acontecesse? Claro! Mas, quem não sabia disso? Até a vovó! Está errado o presidente? Claro, que não! Hoje, Ciro poderia ser o candidato de Lula ao governo paulista? Certamente. Credenciais, ele tem para isso, afinal é filho de São Paulo, e possui domicílio eleitoral. Ainda no artigo, Rossi intui, que não se deve acreditar no que Ciro diz ou faz, "porque tem compulsão pela mentira tola." Em entrevista ao Jornal do SBT, a palavra utilizada por ele, para caracterizar sua vontade de prosseguir no páreo, foi "espernear", ou seja, dar pernadas, e - soberanamente, declarou que Serra é mais preparado que Dilma para governar o país. Rossi questiona: "Mas qual é a autoridade de Ciro para decretar quem é melhor que quem?" E lembra o seguinte: "Na campanha de 2002, Ciro dizia que um eventual governo Lula seria uma aventura. Lula ganhou, e Ciro embarcou na 'aventura', transformando-se em ministro." E vaticina: "Nada impede, portanto, que, amanhã ou depois, Ciro Gomes aceite um convite para ser ministro de uma presidenta que ele considera menos preparada." Nos últimos dias, Ciro - assim como os demais candidatos, tem concedido muitas entrevistas. Por isso, tem falado demais. O deputado Márcio França, presidente do PSB de São Paulo, disse, que, "para o tipo de índole dele, que é de guerreiro, não se podia esperar outra coisa". Mas, já praticamente alijado do pleito, Ciro parece ter caído em si, afirmando, que, a partir de agora, adotará a estratégia do silêncio. "O silêncio é importante nas horas difíceis assim. Tem muita gente intrigando. O que eu falo vira manchete maliciosa", disse o deputado.
É esperar para ver.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A Deus o que é de Deus

Críticas às denominações "evangélicas" não são recentes. Já foram piores, porém. Hoje, circunscrevem-se às "neopentecostais". Se considerarmos em - ou a partir de Pentecostes o nascimento da igreja cristã, veremos, portanto, que ela é pentecostal e única, isso porque os evangélicos também são cristãos, assim como os católicos, evangélicos, e todos pentecostais. A confusão surgiu da divisão, primeiro com a Reforma, considerada protestante, que separou católicos e não-católicos; depois, com o "avivamento espiritual", que reclassificou os protestantes, relegando uns a um tradicionalismo imposto, e outros, a um pentecostalismo militante. O correto, portanto, é falar-se de neopentecostalismo, prática recentemente firmada - principalmente, na "doutrina" do batismo com o Espírito Santo como segunda bênção, acompanhado - ou seguido de falar "línguas estranhas". Profecias e visões também fazem parte da "doutrina". A teologia da prosperidade nada tem a ver com isso, muito menos com o crescimento dos pentecostalistas (nem todas as denominações pentecostalistas professam essa doutrina), que - por sua vez, não deriva do fato de algumas dessas denominações estarem ligadas - e até se utilizarem, como proprietárias, de emissoras de rádio e telvisão. Afirmar, como fez o professor, Clóvis Luz da Silva, no artigo, "A César o que é de César", publicado em "O Liberal", no dia 19 de abril de 2010, que o Império Romano concedia aos judeus o privilégio de exercerem livremente sua fé em Deus para que não se insurgissem contra ele é desconhecer o poder e o tamanho da fé judaica. A aliança político-religiosa é antiga e dinâmica, tendo sofrido, ao longo dos anos, significativas mudanças. Os primeiros a se utilizarem dessa aliança, nos tempos modernos, foram os católicos, e não os protestantes. O voto, enquanto instrumento de cidadania e ferramenta da democracia representativa também é novo, e seu exercício, por conta de mudanças estruturais e conjunturais também evoluiu, mas - nem por isso, abdicou de uma boa orientação, que, aliás, constitui-se em uma das etapas do processo eleitoral, sendo utilizada - sem cerimônias, por todos segmentos sociais e religiosos. Há erro nisso? Se houver, para onde vão as campanhas dos candidatos? O que não está correto é - exclusivamente: a) atribuir às lideranças "evangélicas" a prática do chamado voto de cabresto; b) considerar as denominações "evangélicas" como currais eleitorais; c) chamar os "evangélicos" de bois. E, para ficar apenas em um - o mais recente, cito o caso do Distrito Federal. Quem terá orientado o voto em José Roberto Arruda e seus comparsas, quem votou neles, e de grupo religioso são adeptos? Estou convicto de que esses eleitores exerceram, sim, livremente, seu direito de voto. Não necessitaram, portanto, de ir em nenhum supermercado espiritual para trocar voto por graça de Deus.

Aleluia!

sábado, 17 de abril de 2010

Pará dos paraenses

O "Diário do Pará" é a favor da divisão do Estado do Pará. Jader Barbalho e Asdrubal Bentes, políticos ligados ao jornal, envidam esforços, em Brasília, para que a criação dos estados de Carajás e Tapajós saia ainda esse ano. Na edição de ontem do matutino, a nota, "Divisão do Pará em pauta até o final do mês", comemorou a aprovação, na Câmara dos Deputados, do regime de urgência para a votação dos projetos de decretos legislativos, que estabelecem a realização de plebiscitos, que irão decidir a divisão. Na edição de 24/04/2010, "O Liberal" publicou anúncio de quase página inteira, posicionando-se contra o retalhamento do Estado. Com o título, "Dividir o Pará é multiplicar a pobreza", o texto diz o seguinte: "Estão nos empurrando para a contramão da história. Quando todo mundo luta para ser grande, querem que o Pará se torne menor. As Alemanhas, divididas pela Guerra, comemoraram quando voltaram a ser uma única e indivisível Alemanha. Essa Alemanha que faz parte da União Européia, países de línguas e costumes diferentes - debaixo da mesma bandeira, parlamento e moeda. O Vietnã lutou para se tornar um só. O mesmo destino que as duas Coréias estão buscando. Diminuiu ou não o peso da Rússia depois que a União Soviética fracionou-se? E a Bélgica, então, onde convivem duas comunidades de culturas e idiomas diferentes - os flamengos, majoritários, protestantes, mais ricos, de fala alemã, e os francófanos católicos da Volania, mais pobres, que falam o francês, tinha tudo para ser dois países independentes. Mas a Bélgica continua uma só. Fale em dividir São Paulo a um paulista, e tape os ouvidos para não escutar os palavrões que ele vai soltar. Tentaram dividir, tirar apenas um pedaço pequeno do Paraná para juntar com outro pedaço pequeno de Santa Catarina, criando o novo Estado do Iguaçu, e a reação de paranaenses e catarinenses foi fulminante. Nem passou no Congresso Nacional. Os mineiros levantaram-se em peso contra a criação do Estado do Triângulo, que também não passou no Congresso. Tentaram criar o Estado de Santa Cruz, no sul da Bahia, e a Bahia levantou-se contra esse crime de lesa-pátria. Paulistas, catarinenses, paranaenses, baianos, mineiros, todos sabem que dividir não soma. E sabem também que os plebiscitos dividem a população, colocando irmão contra irmão na defesa de suas propostas. Dividir o Pará é multiplicar a pobreza. Carajás e Tapajós vão nascer com PIBs inferiores até aos de muitos municípios brasileiros. Não é dividindo que se cresce. Não se apequenando que um estado se torna grande." Sou contra a divisão de nosso estado e conclamo os verdadeiros paraenses a se posicionar da mesma maneira.
O Pará é e sempre será dos paraenses.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Confusão de notas

Parece até brincadeira de criança - sim, porque também existe a de adulto, a matéria (PSDB reafirma críticas à gestão de Ana Júlia), publicada no Diário do Pará de hoje, em resposta à nota do PT, que, por sua vez, já era uma resposta ao discurso do senador Mário Couto (PSDB). Ficou tão sem sentido a reportagem, que melhor aprovitamento teria, se fosse publicada em forma de nota do Diretório Estadual do PSDB, quem sabe em substituição à própria nota-resposta tucana. Que confusão, hem? Que tenta dizer a matéria? Nada, além do que todo mundo já está cansado de saber: que o PSDB é oposição, e que jamais irá elogiar o governo. Mas, não foi a crítica ao governo, que ensejou a nota petista, mas, sim, a referência de "beberrona" de uísque feita à governadora pelo senador. A matéria não disse isso, e não disse porque não quis. Espaço tinha. Lógica, também. Não discuto o teor da nota peessedebista.

Paragominas terá vara federal de Justiça

O Pará acaba de ganhar dez novas varas federais de Justiça. Isso é ótimo, não apenas para o cidadão, mas, também, para a própria justiça, que se fortalece mais, a partir do momento em que passa a atender uma quantidade maior de pessoas. Os critérios adotados pelo Conselho Nacional de Justiça, e que embasaram a decisão, foram elaborados a partir de estudo técnico, que identificou a necessidade da Justiça Federal (JF) se fazer presente em todas as regiões geográficas do país. Esses critérios foram da seguinte ordem: densidade populacional, índice de crescimento demográfico, Produto Interno Bruto e distância de localidades onde já existia pelo menos uma vara federal. Com as novas varas, o Pará passará a ter 22 varas federais, duplicando a presença da JF, no Estado. Além de Belém, que recebeu quatro, Marabá, Redenção, Itaituba, Paragominas, Santarém e Tucuruí foram as outras cidades paraenses contempladas cada uma com uma vara federal de Justiça.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Senadores do Pará

Reconheço, que não sou muito bom para memorizar números. Por isso, não me arrisco a citar o ano em que a cidade de Paragominas, quase em peso, votou em Mário Couto (PSDB), e acabou ajudando a elegê-lo senador. Naquela eleição, ele teve apoio do então prefeito Sidney Rosa, que carregou nas costas esse trambolho. Um desperdício. Acho que até o próprio Rosa se arrependeu da façanha. Eleito, o homem - que já não pisava no município, aí mesmo que dele se afastou. Por outro lado - e olha que procuro acompanhar o noticiário político brasileiro, pouco tenho visto esse rapaz, na tribuna do Senado. Mas, das raras vezes que isso aconteceu, a passagem dele por lá não foi das mais promissoras. O homem não tem controle. Nem ética. Não sabe fazer política. E, quando pensa que faz, parte para o "salve-se quem puder". É truculento. Baixo nível. A mais recente dele foi atacar a governadora Ana Júlia (PT) fora dos padrões, que regem - no mínimo, a boa educação. Creio que o senador, na época que estudava, tenha sido aluno de péssima conduta. É dele essa pérola de eloquência e lucidez: "Será que Ana Júlia sabe o que é gestão? Eu sei que ela sabe muito bem usar aqueles copos redondos com um líquido amarelo dentro. É o líquido amarelo chamado uísque. Isso ela usa muito bem." Ora, Mário Couto possui todo o direito de discordar da maneira petista com que Ana Júlia governa o Pará. Mas, penetrar por esse caminho é fugir à lógica da sã política. Com essa atitude, fica demonstrada, para mim, a ausência de argumentos sólidos para um debate sério e duradouro - bem ao contrário da análise do deputado José Megale (PSDB), que considerou o discurso do senador como um reflexo do "entendimento da sociedade." Sei não. Não sou tão velho, mas ainda tenho a vaga lembrança dos tempos em que o Pará tinha bons senadores.
Hoje, só temos o sarro.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Discurso ignorado

Com a publicação da nota, "Dilma não foge da luta nem critica exilados", a tal polêmica sobre os exilados parece que foi sepultada. Não fosse a "má fé" de quem interpretou as declarações de Dilma (PT), feitas em São Bernardo do Campo, como ofensivas aos brasileiros, que, à época da ditadura militar, tiveram que sair do país, e ela nem teria acontecido. Seria nati-morta. Mas, não. A oposição cuidou de repercutir, exagerando no tratamento. Sobre a falsa polêmica, a candidata deixou recados no Twitter: "De onde tiraram que fugir da luta é se exilar? O exílio significou a diferença entre a vida e a morte para os exilados brasileiros. Grandes amigos meus corajosos e valorosos só tiveram uma saída na ditadura, se exilar. Querer dizer que eu os critiquei só pode ser má fé. A quem interessa criar interpretações falsas sobre as minhas palavras? Não importa, a verdade se impõe.Vou seguir em frente." Desde sábado (10/04), começou a "caça às bruxas", e - a partir de agora, tudo que Dilma disser, para a oposição, terá como alvo o candidato do PSDB, Serra. Renegados de carteirinha, como Roberto Freire e Cristovam Buarque, apressaram-se a embarcar na farsa, condenando o que a candidata não disse. Ambos foram pródigos em citar ícones da resistência brasileira ao regime de exceção, iniciado em 1964: Miguel Arraes, Leonel Brizola, Luiz Carlos Prestes e José Dirceu. Chegaram ao absurdo de afirmar que Dilma havia chamado essas figuras de covardes e fujões. Quem assistiu pelo "You Tube" o discurso, sabe que ela não disse nada disso. A oposição partidária está fazendo o papel dela. Mas, que dizer de uma imprensa que se reputa livre? Que liberdade é essa, que não colabora com a verdade? Em seu discurso, Dilma também afirmou: "Eu não fujo da situação, quando ela fica difícil. Eu não tenho medo da luta. Eu posso apanhar, sofrer, ser maltrada como já fui, mas eu estou sempre firme com as minhas convicções. Em cada época de minha vida, eu fiz o que fiz, porque acreditei no que fazia. Fiz com o coração, com a minha alma e com minha paixão. Eu só mudei, quando o Brasil mudou, mas eu nunca fugi da luta ou me submeti. E, sobretudo, nunca abandonei o barco. Eu também não sou de esmorecer. Vocês não vão me ver nunca entregando os pontos, desistindo ou jogando a toalha diante da primeira, da segunda, da terceira e da quarta dificuldade. Nós fomos forjados enfrentando dificuldades. Se não fosse difícil, não seríamos nós a fazer. Seriam outros. Eu vou lutar até o fim por aquilo que eu acredito. "
Isso tudo, porém, e mais alguma coisa, a imprensa não publicou.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Só deu Serra

Positivamente, a imprensa política brasileira do fim de semana foi Serra (PSDB). Articulistas, como: Fernando de Barros e Silva (São Paulo/Folhapress), Fernando Rodrigues (Brasília/Folhapress) e Ricardo Noblat (O Globo) deram destaque, em suas colunas, para o discurso do candidato "tucano" à Presidência da República. Em "Desforra e rancor", Fernando de Barros e Silva se mostrou contaminado pelo entusiasmo da militância peessedebista e - quase em dúvida, acabou se confessando surpreso com a própria oposição, que ele cria "desdentada, sem discurso e na defensiva". E, para não fugir ao seu figurino, considerou o ex-governador de São Paulo como um "estadista", sempre comedido em suas falas, tanto que, na visão do jornalista, entregou aos "coadjuvantes", DEM e PPS, o chumbo grosso da artilharia contra o governo e Dilma (PT). "A estratégia de Serra", de Fernando Rodrigues, enverdou pelo mesmo caminho, ressaltando os pontos positivos do discurso do candidato. Um pouco mais analítico, o jornalista definiu a estratégia de campanha de Serra, resumida em três pontos: biografia, continuidade de Lula e país unido. Segundo ele, em tudo, Serra deseja ser comparado a Dilma, acreditando que leva vantagem na disputa. Crê que sua experiência política "terá impacto forte sobre o eleitorado"; que "é o nome apropriado"; e que busca a "unidade nacional". Fernando Rodrigues avalia que ainda é muito cedo para dizer se esses eixos serão eficazes, ressalvando, porém, que, devido à forte tensão em que se encontram os candidatos, há sempre a possibilidade de erros e acertos, e que "a conexão com o eleitorado" dependerá do tamanho desses erros e acertos. Conclui, afirmando que Serra, "como candidato anti-PT", tem feito o posssível, e que, apesar dos titubeios, errou pouco até agora. Ricardo Noblat, em "O destino de Serra", inicia fazendo referência ao que todo mundo - até agora, do discurso do candidato, tomou como profecia: "o Brasil pode mais". Mas, ao contrário dos outros, Noblat lança a dúvida: dessa vez, Serra poderá mais? Ele não nega, que, dos candidatos, o ex-governador é o mais preparado para governar o país, mas - segundo ele, isso nao importa muito, lembrando que, desde 2002, Serra detém essa condição, mas, naquele ano, foi derrotado por Lula. Agora, tem consciência das dificuldades que enfrentará para se eleger, daí a frase: "Esta será uma caminhada longa e difícil", dita no discurso de sábado (10/04), em Brasília. Para o jornalista, a maior dificuldade a ser enfrentada será o significado da candidatura serrista, ou seja, o eleitor, se quiser votar em Serra, terá de "enxergar" bem a diferença entre uma candidatura que represente a continuidade ou a mudança de governo. E - para ele, a candidata da continuidade é Dilma, e não ele - Serra. Noblat lembra ainda que, em 2002, o candidato tucano também se encontrava diante de uma caminhada longa e difícil, mas, mesmo assim, "batalhou para ser candidato de um governo impopular do qual fora ministro do Planejamento e da Saúde", porque estava convencido de que somente ele poderia mudar a política econômica do governo, da qual sempre fora contra. Noblat afirma que "pesquisas de intenção de voto confirmam que uma larga maioria de brasileiros quer a continuidade do governo Lula." Segundo ele, Serra sabe disso, mas pretende vencer a eleição se apresentando como o candidato de melhor currículo, o que - para o jornalista, "só empolga o eleitor, quando ele quer mudar". Serra é candidato, porque não tem escolha. Ainda lidera as pesquisas de intenção de voto, mas sabe das dificuldades a enfrentar até o dia da eleição.
Em síntese, os três artigos caminham muito parecidos e quase na mesma direção: a direção de Serra.

Abuso de absurdo

Carlos Heitor Cony (Rio de Janeiro/Folhapress), em artigo dessa semana (Expediente dobrado) chama Lula de "bom cidadão e excelente funcionário público" pelo simples fato de o presidente ter declarado, que, nessa campanha eleitoral, "dará expediente duplo e legal: de segunda a sexta-feira será presidente da República; sábados, domingos, feriados e dias santificados será cabo eleitoral de sua candidata e dos demais candidatos afins, seus aliados." Serra (PSDB) - diz ele, embora não sendo mais governador de São Paulo, fará o mesmo. Mais adiante, após descobrir que a reeleição de presidente da República não é exclusividade do Brasil, equivoca-se novamente o articulista, ao afirmar, referindo-se à reeleição, que ela "não deixa de ser uma desvantagem da democracia representativa, dando a um pretendente ao poder uma chance que não pode ser dada aos demais." Estaria ele se referindo ao presidente Lula? Creio que sim, pois vejamos o que vem seguir: "No caso de Lula, ele já vem acumulando as funções de presidente e cabo eleitoral com apetite igual." Por que somente no Brasil a reeleição é vista como desvantagem à democracia? Se Lula não é candidato, por que teria a chance a que se refere o escritor, e que não pode ser concedida a outros candidatos? Afirma Cony, que é pelo fato de ele ser o presidente da República. E as multas? Para que serve a Justiça Eleitoral, senão para fiscalizar campanhas, partidos políticos e candidaturas? No caso de Lula, não é a função que está a contar. O "peso suplementar" conferido pelo jornalista, e "que desequilibrará a igualdade de condições que seria desejável numa eleição presidencial", é a popularidade de Lula como presidente do Brasil, que já foi testada uma vez, e que será novamente agora. A ideia de Cony para que Lula renuncie à Presidência para se tornar um "legítimo" cabo eleitoral de Dilma (PT) é tão estúpida, que me custa muito admitir ter partido de uma inteligência tão lúcida quanto à do escritor carioca.
Haveria, na "democracia representativa" brasileira, espaço para tamanho absurdo?

Ironia que fede

Eliane Cantanhêde (Brasília/Folhapress) vibrou com o lançamento da candidatura de Serra (PSDB) à Presidência da República, manifestando todo seu entusiasmo em artigo dessa semana (O partido das massas cheirosas), no qual se confessa também impressionada com o que viu no encontro do partido. O que lhe chamou atenção foi, entre tantos detalhes - usando as palavras da própria articulista, a costumeira "elegância chocha tucana" ser revertida em "energia petista", nesse tipo de evento. Comparou os lançamentos das candidaturas de Dilma (PT) e Serra, e concluiu que o da mulher "foi um show protocolar", enquanto o do homem, "uma bagunça". Observou mais: que "o PSDB se esforçou para parecer um partido de massas". E, apoiando-se em "ironia" de um assessor, escreveu: "Mas massas cheirosas..." Nesse dia, Eliane estava muito atenta. Atentou até para os ônibus que transportaram os militantes e "sacou" que eram "novinhos em folha". Sobre isso, calou-se, desprezando esse pormenor. Na varredura, a jornalista tomou conhecimento de que, enquanto nos bastidores, o tucanato discutia se FHC deveria ou não discursar, na convenção, "ele foi um dos mais ovacionados". Daí pra frente, centrou atenção no discurso do candidato, destacando as bravatas dele: que os avanços brasileiros de hoje são os mesmos de 25 anos a trás, que governos são para servir ao povo e unir nações, que não devem servir a partidos políticos, que não são para estimular disputas entre pobres e ricos, e que não devem jogar governo contra oposição. E, concluindo seu leque de observações, definiu o eixo da campanha de Serra: "êxitos não são de um só homem ou de um só governo". Na visão da jornalista, para ser de massas, o partido político precisa ser "bagunçado", e - quem sabe, de "engravatados". Fora dele ficariam, portanto, os tais "descamisados", os de vestes surradas, os de chinelos, os de jibões, os desdentados, enfim. Quem sabe, se - nesse partido de massas cheirosas, só haja vagas para "aloprados" e "mensaleiros" de toda espécie. Eliane Cantanhêde não pode chegar a esse nível de observação, porque está impregnada do perfume preconceituoso dos "tucanos", que - até hoje, não se conformam com a ascenção de um nordestino pobre (isso mesmo) ao mais importante cargo da nação brasileira. Ela quis "fazer graça", apossando-se de uma ironia mal-cheirosa.
Não pegou bem.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Fernando Henrique versus Lula

Os termos do editorial de sexta-feira (09/04) de "O Liberal" são ingênuos. "Do nada a lugar nenhum" - esse é o título do artigo, ressalta a pouca (para não dizer nenhuma) qualidade do debate eleitoral, que se aproxima. Ele - o editorial, bem que gostaria que esse debate fosse ao mesmo tempo esclarecedor e formador de convicções e juízos acerca dos grandes temas de interesse nacional. Mas, quando foi que tivemos um debate desse nível? Não lembro. Lembro, sim, da eleição presidencial, em que o candidato, Fernando Collor, apresentou à população brasileira (e não apenas ao eleitor) a filha escondida de Lula. Isso foi esclarecedor? Na primeira disputa com Lula, Fernando Henrique Cardoso usou o Plano Real para se eleger. Errou? Claro, que não! Depois, reelegeu-se respaldado no controle da inflação, que dava alguma folga ao trabalhador. Que tipo de juízo esse debate formou? Não sei. Agora, o texto cobra um debate ético. Quando, em política, teve-se ética? A oposição de hoje é a situação de ontem. Hoje, invertem-se apenas os papéis. José Serra, do PSDB, não representa a oposição? Se não, de que lado está? Não tem jeito. A situação é essa. Não há meio termo. O debate eleitoral desse ano - como os anteriores, não formará convicções, até porque grande parte dessas convicções já se encontram - há muito, formadas. O eleitor minimamente "esclarecido" já sabe em quem votar, já tem o seu candidato, e fim de papo. Essa história de indecisão é conversa para boi dormir. Será que oito anos de governo Lula - assim como oito anos de Fernando Henrique, não foram suficientes para que o eleitor firmasse o seu voto, firmando, também, a sua convicção acerca dos grandes temas de interesse nacional? O aludido editorial choveu no molhado. Não disse nada além do que já se sabe. Talvez esteja tentando se desculpar ou justificar o óbvio: que a disputa eleitoral desse ano, principalmente em nível de Presidência da República, será comparativa. Oito anos de mandato para cada lado. Oito de Lula e oito de Fernando Henrique. O candidato da oposição não será José Serra. Será Fernando Henrique Cardoso, assim como o candidato do governo não será Dilma Rousseff, mas, sim, Luiz Inácio Lula da Silva. A oposição fará o papel dela - e tem mais do que razão em fazer isso: ressussitar escândalos (mensalões e aloprados) do atual governo. O governo trará à lembrança do eleitor a economia maquiada de tempos anteriores a ele. Serra será apenas um detalhe e seu governo de São Paulo não servirá de parâmetro comparativo de gestão e execução de obras e programas sociais.
O debate político - ao contrário do que preconiza o editorial, refaz-se no calor da disputa eleitoral.

Crime de uniforme

Na quinta-feira (08/04), por volta das 15 horas, dois elementos pularam o muro da escola "DomAlberto Ramos", em Curuçambá (Ananindeua), e assaltaram o professor e os alunos de uma sala de aula. Há poucos dias, na mesma localidade, outra escola foi invadida e assaltada por bandidos. O fato curioso é que - em ambos os casos, os assaltantes se faziam passar por alunos da escola, chegando a usar - inclusive, uniformes escolares, a fim de aumentar a aparência de alunos. Há que ponto chegamos! Eu já tinha "visto" bandido usar fardamento policial-militar - até da Polícia Federal, mas, bandido disfarçado de estudante é a primeira vez. Há que ponto chegou a audácia e a astúcia desses pilantras! Antigamente, quando se tentava explicar a exigência do uniforme escolar, dizia-se que era para identificar o aluno e diferenciá-lo de um provável meliante. Pelo visto, essa tese - hoje, não faz o menor sentido. Um amigo me disse, que unifome escolar se compra em qualquer lugar. E, se não se quiser comprar, rouba-se de alguém ou alguém empresta o seu para o bandido. Ninguem se encontra totalmente seguro, em lugar nenhum. Hoje, a escola - salvo raras exceções, tornou-se território livre, por onde circula gente de toda "espécie". Ninguém - em tese, traz a marca do "mal" estampada na testa, e o assaltante pode estar ao nosso lado. Por aqui, dá-se jeito para tudo, até para roubar. Só não se dá jeito para a morte. Policiamento - infelizmente, não resolve. Ameniza. Inibe. Mas, nem sempre a polícia consegue - e pode, estar presente o tempo todo em uma esola. O horário das aulas é outro problema: antigamente, o perigo corria à noite. Hoje, não tem hora para ocorrer. Nos casos das escolas de Curuçambá, os crimes se deram durante o dia. Quer dizer, o crime muda de horário, conforme a conveniência do criminoso e de sua disponibilidade de tempo.