segunda-feira, 12 de abril de 2010

Abuso de absurdo

Carlos Heitor Cony (Rio de Janeiro/Folhapress), em artigo dessa semana (Expediente dobrado) chama Lula de "bom cidadão e excelente funcionário público" pelo simples fato de o presidente ter declarado, que, nessa campanha eleitoral, "dará expediente duplo e legal: de segunda a sexta-feira será presidente da República; sábados, domingos, feriados e dias santificados será cabo eleitoral de sua candidata e dos demais candidatos afins, seus aliados." Serra (PSDB) - diz ele, embora não sendo mais governador de São Paulo, fará o mesmo. Mais adiante, após descobrir que a reeleição de presidente da República não é exclusividade do Brasil, equivoca-se novamente o articulista, ao afirmar, referindo-se à reeleição, que ela "não deixa de ser uma desvantagem da democracia representativa, dando a um pretendente ao poder uma chance que não pode ser dada aos demais." Estaria ele se referindo ao presidente Lula? Creio que sim, pois vejamos o que vem seguir: "No caso de Lula, ele já vem acumulando as funções de presidente e cabo eleitoral com apetite igual." Por que somente no Brasil a reeleição é vista como desvantagem à democracia? Se Lula não é candidato, por que teria a chance a que se refere o escritor, e que não pode ser concedida a outros candidatos? Afirma Cony, que é pelo fato de ele ser o presidente da República. E as multas? Para que serve a Justiça Eleitoral, senão para fiscalizar campanhas, partidos políticos e candidaturas? No caso de Lula, não é a função que está a contar. O "peso suplementar" conferido pelo jornalista, e "que desequilibrará a igualdade de condições que seria desejável numa eleição presidencial", é a popularidade de Lula como presidente do Brasil, que já foi testada uma vez, e que será novamente agora. A ideia de Cony para que Lula renuncie à Presidência para se tornar um "legítimo" cabo eleitoral de Dilma (PT) é tão estúpida, que me custa muito admitir ter partido de uma inteligência tão lúcida quanto à do escritor carioca.
Haveria, na "democracia representativa" brasileira, espaço para tamanho absurdo?

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