domingo, 25 de abril de 2010

O silêncio do falador

"Enfim, o impacto que a desistência de Ciro e o eventual uso na campanha de seu conhecido destempero terão a consistência e o prazo de validade de uma maionese. Ou seja, um dia ou dois." Parágrafo final do artigo, "Ciro e o rebuliço artificial", de Clóvis Rossi (São Paulo/Folhapress). O deputado federal, Ciro Gomes, não desistiu de ser candidato à Presidência da República. Ele foi - ou será, vetado por seu partido, e - por causa disso, ficará impedido de disputar a eleição. Levantamento do PSB diz, que, se a candidatura de Ciro fosse efetivada, teria apoio partidário do Ceará, Amazonas, Paraíba, Alagoas e Minas Gerais. Ainda assim, em Minas, o partido tem estreitas ligações políticas com o PSDB. Então, que sobraria a Ciro? Nada, praticamente. Em São Paulo, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, o partido cobra migalhas do PT, como: liberação de partidos para coligar com ele e palanques duplos para Dilma, a candidata petista. Na Paraíba, os socialistas pedem neutralidade petista ao governo do Estado - o partido tem candidato próprio, e o PT apóia o candidato do PMDB. Frente a diminuto quadro, sou levado a concordar com Rossi, que atribui à fraqueza do bedate eleitoral o "frisson" jornalístico provocado pelo "impedimento" de Ciro. Imagine-se, se - hoje, Marina Silva (PV/AC), deixasse de ser candidata! Ora, quem se encarregou de deixar o candidato na "banheira" foi seu próprio partido. Está claro, porém, que, na disputa política, a "desistência" de Ciro - teoricamente, joga a favor de Dilma. Lula torcia para que isso acontecesse? Claro! Mas, quem não sabia disso? Até a vovó! Está errado o presidente? Claro, que não! Hoje, Ciro poderia ser o candidato de Lula ao governo paulista? Certamente. Credenciais, ele tem para isso, afinal é filho de São Paulo, e possui domicílio eleitoral. Ainda no artigo, Rossi intui, que não se deve acreditar no que Ciro diz ou faz, "porque tem compulsão pela mentira tola." Em entrevista ao Jornal do SBT, a palavra utilizada por ele, para caracterizar sua vontade de prosseguir no páreo, foi "espernear", ou seja, dar pernadas, e - soberanamente, declarou que Serra é mais preparado que Dilma para governar o país. Rossi questiona: "Mas qual é a autoridade de Ciro para decretar quem é melhor que quem?" E lembra o seguinte: "Na campanha de 2002, Ciro dizia que um eventual governo Lula seria uma aventura. Lula ganhou, e Ciro embarcou na 'aventura', transformando-se em ministro." E vaticina: "Nada impede, portanto, que, amanhã ou depois, Ciro Gomes aceite um convite para ser ministro de uma presidenta que ele considera menos preparada." Nos últimos dias, Ciro - assim como os demais candidatos, tem concedido muitas entrevistas. Por isso, tem falado demais. O deputado Márcio França, presidente do PSB de São Paulo, disse, que, "para o tipo de índole dele, que é de guerreiro, não se podia esperar outra coisa". Mas, já praticamente alijado do pleito, Ciro parece ter caído em si, afirmando, que, a partir de agora, adotará a estratégia do silêncio. "O silêncio é importante nas horas difíceis assim. Tem muita gente intrigando. O que eu falo vira manchete maliciosa", disse o deputado.
É esperar para ver.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A Deus o que é de Deus

Críticas às denominações "evangélicas" não são recentes. Já foram piores, porém. Hoje, circunscrevem-se às "neopentecostais". Se considerarmos em - ou a partir de Pentecostes o nascimento da igreja cristã, veremos, portanto, que ela é pentecostal e única, isso porque os evangélicos também são cristãos, assim como os católicos, evangélicos, e todos pentecostais. A confusão surgiu da divisão, primeiro com a Reforma, considerada protestante, que separou católicos e não-católicos; depois, com o "avivamento espiritual", que reclassificou os protestantes, relegando uns a um tradicionalismo imposto, e outros, a um pentecostalismo militante. O correto, portanto, é falar-se de neopentecostalismo, prática recentemente firmada - principalmente, na "doutrina" do batismo com o Espírito Santo como segunda bênção, acompanhado - ou seguido de falar "línguas estranhas". Profecias e visões também fazem parte da "doutrina". A teologia da prosperidade nada tem a ver com isso, muito menos com o crescimento dos pentecostalistas (nem todas as denominações pentecostalistas professam essa doutrina), que - por sua vez, não deriva do fato de algumas dessas denominações estarem ligadas - e até se utilizarem, como proprietárias, de emissoras de rádio e telvisão. Afirmar, como fez o professor, Clóvis Luz da Silva, no artigo, "A César o que é de César", publicado em "O Liberal", no dia 19 de abril de 2010, que o Império Romano concedia aos judeus o privilégio de exercerem livremente sua fé em Deus para que não se insurgissem contra ele é desconhecer o poder e o tamanho da fé judaica. A aliança político-religiosa é antiga e dinâmica, tendo sofrido, ao longo dos anos, significativas mudanças. Os primeiros a se utilizarem dessa aliança, nos tempos modernos, foram os católicos, e não os protestantes. O voto, enquanto instrumento de cidadania e ferramenta da democracia representativa também é novo, e seu exercício, por conta de mudanças estruturais e conjunturais também evoluiu, mas - nem por isso, abdicou de uma boa orientação, que, aliás, constitui-se em uma das etapas do processo eleitoral, sendo utilizada - sem cerimônias, por todos segmentos sociais e religiosos. Há erro nisso? Se houver, para onde vão as campanhas dos candidatos? O que não está correto é - exclusivamente: a) atribuir às lideranças "evangélicas" a prática do chamado voto de cabresto; b) considerar as denominações "evangélicas" como currais eleitorais; c) chamar os "evangélicos" de bois. E, para ficar apenas em um - o mais recente, cito o caso do Distrito Federal. Quem terá orientado o voto em José Roberto Arruda e seus comparsas, quem votou neles, e de grupo religioso são adeptos? Estou convicto de que esses eleitores exerceram, sim, livremente, seu direito de voto. Não necessitaram, portanto, de ir em nenhum supermercado espiritual para trocar voto por graça de Deus.

Aleluia!

sábado, 17 de abril de 2010

Pará dos paraenses

O "Diário do Pará" é a favor da divisão do Estado do Pará. Jader Barbalho e Asdrubal Bentes, políticos ligados ao jornal, envidam esforços, em Brasília, para que a criação dos estados de Carajás e Tapajós saia ainda esse ano. Na edição de ontem do matutino, a nota, "Divisão do Pará em pauta até o final do mês", comemorou a aprovação, na Câmara dos Deputados, do regime de urgência para a votação dos projetos de decretos legislativos, que estabelecem a realização de plebiscitos, que irão decidir a divisão. Na edição de 24/04/2010, "O Liberal" publicou anúncio de quase página inteira, posicionando-se contra o retalhamento do Estado. Com o título, "Dividir o Pará é multiplicar a pobreza", o texto diz o seguinte: "Estão nos empurrando para a contramão da história. Quando todo mundo luta para ser grande, querem que o Pará se torne menor. As Alemanhas, divididas pela Guerra, comemoraram quando voltaram a ser uma única e indivisível Alemanha. Essa Alemanha que faz parte da União Européia, países de línguas e costumes diferentes - debaixo da mesma bandeira, parlamento e moeda. O Vietnã lutou para se tornar um só. O mesmo destino que as duas Coréias estão buscando. Diminuiu ou não o peso da Rússia depois que a União Soviética fracionou-se? E a Bélgica, então, onde convivem duas comunidades de culturas e idiomas diferentes - os flamengos, majoritários, protestantes, mais ricos, de fala alemã, e os francófanos católicos da Volania, mais pobres, que falam o francês, tinha tudo para ser dois países independentes. Mas a Bélgica continua uma só. Fale em dividir São Paulo a um paulista, e tape os ouvidos para não escutar os palavrões que ele vai soltar. Tentaram dividir, tirar apenas um pedaço pequeno do Paraná para juntar com outro pedaço pequeno de Santa Catarina, criando o novo Estado do Iguaçu, e a reação de paranaenses e catarinenses foi fulminante. Nem passou no Congresso Nacional. Os mineiros levantaram-se em peso contra a criação do Estado do Triângulo, que também não passou no Congresso. Tentaram criar o Estado de Santa Cruz, no sul da Bahia, e a Bahia levantou-se contra esse crime de lesa-pátria. Paulistas, catarinenses, paranaenses, baianos, mineiros, todos sabem que dividir não soma. E sabem também que os plebiscitos dividem a população, colocando irmão contra irmão na defesa de suas propostas. Dividir o Pará é multiplicar a pobreza. Carajás e Tapajós vão nascer com PIBs inferiores até aos de muitos municípios brasileiros. Não é dividindo que se cresce. Não se apequenando que um estado se torna grande." Sou contra a divisão de nosso estado e conclamo os verdadeiros paraenses a se posicionar da mesma maneira.
O Pará é e sempre será dos paraenses.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Confusão de notas

Parece até brincadeira de criança - sim, porque também existe a de adulto, a matéria (PSDB reafirma críticas à gestão de Ana Júlia), publicada no Diário do Pará de hoje, em resposta à nota do PT, que, por sua vez, já era uma resposta ao discurso do senador Mário Couto (PSDB). Ficou tão sem sentido a reportagem, que melhor aprovitamento teria, se fosse publicada em forma de nota do Diretório Estadual do PSDB, quem sabe em substituição à própria nota-resposta tucana. Que confusão, hem? Que tenta dizer a matéria? Nada, além do que todo mundo já está cansado de saber: que o PSDB é oposição, e que jamais irá elogiar o governo. Mas, não foi a crítica ao governo, que ensejou a nota petista, mas, sim, a referência de "beberrona" de uísque feita à governadora pelo senador. A matéria não disse isso, e não disse porque não quis. Espaço tinha. Lógica, também. Não discuto o teor da nota peessedebista.

Paragominas terá vara federal de Justiça

O Pará acaba de ganhar dez novas varas federais de Justiça. Isso é ótimo, não apenas para o cidadão, mas, também, para a própria justiça, que se fortalece mais, a partir do momento em que passa a atender uma quantidade maior de pessoas. Os critérios adotados pelo Conselho Nacional de Justiça, e que embasaram a decisão, foram elaborados a partir de estudo técnico, que identificou a necessidade da Justiça Federal (JF) se fazer presente em todas as regiões geográficas do país. Esses critérios foram da seguinte ordem: densidade populacional, índice de crescimento demográfico, Produto Interno Bruto e distância de localidades onde já existia pelo menos uma vara federal. Com as novas varas, o Pará passará a ter 22 varas federais, duplicando a presença da JF, no Estado. Além de Belém, que recebeu quatro, Marabá, Redenção, Itaituba, Paragominas, Santarém e Tucuruí foram as outras cidades paraenses contempladas cada uma com uma vara federal de Justiça.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Senadores do Pará

Reconheço, que não sou muito bom para memorizar números. Por isso, não me arrisco a citar o ano em que a cidade de Paragominas, quase em peso, votou em Mário Couto (PSDB), e acabou ajudando a elegê-lo senador. Naquela eleição, ele teve apoio do então prefeito Sidney Rosa, que carregou nas costas esse trambolho. Um desperdício. Acho que até o próprio Rosa se arrependeu da façanha. Eleito, o homem - que já não pisava no município, aí mesmo que dele se afastou. Por outro lado - e olha que procuro acompanhar o noticiário político brasileiro, pouco tenho visto esse rapaz, na tribuna do Senado. Mas, das raras vezes que isso aconteceu, a passagem dele por lá não foi das mais promissoras. O homem não tem controle. Nem ética. Não sabe fazer política. E, quando pensa que faz, parte para o "salve-se quem puder". É truculento. Baixo nível. A mais recente dele foi atacar a governadora Ana Júlia (PT) fora dos padrões, que regem - no mínimo, a boa educação. Creio que o senador, na época que estudava, tenha sido aluno de péssima conduta. É dele essa pérola de eloquência e lucidez: "Será que Ana Júlia sabe o que é gestão? Eu sei que ela sabe muito bem usar aqueles copos redondos com um líquido amarelo dentro. É o líquido amarelo chamado uísque. Isso ela usa muito bem." Ora, Mário Couto possui todo o direito de discordar da maneira petista com que Ana Júlia governa o Pará. Mas, penetrar por esse caminho é fugir à lógica da sã política. Com essa atitude, fica demonstrada, para mim, a ausência de argumentos sólidos para um debate sério e duradouro - bem ao contrário da análise do deputado José Megale (PSDB), que considerou o discurso do senador como um reflexo do "entendimento da sociedade." Sei não. Não sou tão velho, mas ainda tenho a vaga lembrança dos tempos em que o Pará tinha bons senadores.
Hoje, só temos o sarro.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Discurso ignorado

Com a publicação da nota, "Dilma não foge da luta nem critica exilados", a tal polêmica sobre os exilados parece que foi sepultada. Não fosse a "má fé" de quem interpretou as declarações de Dilma (PT), feitas em São Bernardo do Campo, como ofensivas aos brasileiros, que, à época da ditadura militar, tiveram que sair do país, e ela nem teria acontecido. Seria nati-morta. Mas, não. A oposição cuidou de repercutir, exagerando no tratamento. Sobre a falsa polêmica, a candidata deixou recados no Twitter: "De onde tiraram que fugir da luta é se exilar? O exílio significou a diferença entre a vida e a morte para os exilados brasileiros. Grandes amigos meus corajosos e valorosos só tiveram uma saída na ditadura, se exilar. Querer dizer que eu os critiquei só pode ser má fé. A quem interessa criar interpretações falsas sobre as minhas palavras? Não importa, a verdade se impõe.Vou seguir em frente." Desde sábado (10/04), começou a "caça às bruxas", e - a partir de agora, tudo que Dilma disser, para a oposição, terá como alvo o candidato do PSDB, Serra. Renegados de carteirinha, como Roberto Freire e Cristovam Buarque, apressaram-se a embarcar na farsa, condenando o que a candidata não disse. Ambos foram pródigos em citar ícones da resistência brasileira ao regime de exceção, iniciado em 1964: Miguel Arraes, Leonel Brizola, Luiz Carlos Prestes e José Dirceu. Chegaram ao absurdo de afirmar que Dilma havia chamado essas figuras de covardes e fujões. Quem assistiu pelo "You Tube" o discurso, sabe que ela não disse nada disso. A oposição partidária está fazendo o papel dela. Mas, que dizer de uma imprensa que se reputa livre? Que liberdade é essa, que não colabora com a verdade? Em seu discurso, Dilma também afirmou: "Eu não fujo da situação, quando ela fica difícil. Eu não tenho medo da luta. Eu posso apanhar, sofrer, ser maltrada como já fui, mas eu estou sempre firme com as minhas convicções. Em cada época de minha vida, eu fiz o que fiz, porque acreditei no que fazia. Fiz com o coração, com a minha alma e com minha paixão. Eu só mudei, quando o Brasil mudou, mas eu nunca fugi da luta ou me submeti. E, sobretudo, nunca abandonei o barco. Eu também não sou de esmorecer. Vocês não vão me ver nunca entregando os pontos, desistindo ou jogando a toalha diante da primeira, da segunda, da terceira e da quarta dificuldade. Nós fomos forjados enfrentando dificuldades. Se não fosse difícil, não seríamos nós a fazer. Seriam outros. Eu vou lutar até o fim por aquilo que eu acredito. "
Isso tudo, porém, e mais alguma coisa, a imprensa não publicou.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Só deu Serra

Positivamente, a imprensa política brasileira do fim de semana foi Serra (PSDB). Articulistas, como: Fernando de Barros e Silva (São Paulo/Folhapress), Fernando Rodrigues (Brasília/Folhapress) e Ricardo Noblat (O Globo) deram destaque, em suas colunas, para o discurso do candidato "tucano" à Presidência da República. Em "Desforra e rancor", Fernando de Barros e Silva se mostrou contaminado pelo entusiasmo da militância peessedebista e - quase em dúvida, acabou se confessando surpreso com a própria oposição, que ele cria "desdentada, sem discurso e na defensiva". E, para não fugir ao seu figurino, considerou o ex-governador de São Paulo como um "estadista", sempre comedido em suas falas, tanto que, na visão do jornalista, entregou aos "coadjuvantes", DEM e PPS, o chumbo grosso da artilharia contra o governo e Dilma (PT). "A estratégia de Serra", de Fernando Rodrigues, enverdou pelo mesmo caminho, ressaltando os pontos positivos do discurso do candidato. Um pouco mais analítico, o jornalista definiu a estratégia de campanha de Serra, resumida em três pontos: biografia, continuidade de Lula e país unido. Segundo ele, em tudo, Serra deseja ser comparado a Dilma, acreditando que leva vantagem na disputa. Crê que sua experiência política "terá impacto forte sobre o eleitorado"; que "é o nome apropriado"; e que busca a "unidade nacional". Fernando Rodrigues avalia que ainda é muito cedo para dizer se esses eixos serão eficazes, ressalvando, porém, que, devido à forte tensão em que se encontram os candidatos, há sempre a possibilidade de erros e acertos, e que "a conexão com o eleitorado" dependerá do tamanho desses erros e acertos. Conclui, afirmando que Serra, "como candidato anti-PT", tem feito o posssível, e que, apesar dos titubeios, errou pouco até agora. Ricardo Noblat, em "O destino de Serra", inicia fazendo referência ao que todo mundo - até agora, do discurso do candidato, tomou como profecia: "o Brasil pode mais". Mas, ao contrário dos outros, Noblat lança a dúvida: dessa vez, Serra poderá mais? Ele não nega, que, dos candidatos, o ex-governador é o mais preparado para governar o país, mas - segundo ele, isso nao importa muito, lembrando que, desde 2002, Serra detém essa condição, mas, naquele ano, foi derrotado por Lula. Agora, tem consciência das dificuldades que enfrentará para se eleger, daí a frase: "Esta será uma caminhada longa e difícil", dita no discurso de sábado (10/04), em Brasília. Para o jornalista, a maior dificuldade a ser enfrentada será o significado da candidatura serrista, ou seja, o eleitor, se quiser votar em Serra, terá de "enxergar" bem a diferença entre uma candidatura que represente a continuidade ou a mudança de governo. E - para ele, a candidata da continuidade é Dilma, e não ele - Serra. Noblat lembra ainda que, em 2002, o candidato tucano também se encontrava diante de uma caminhada longa e difícil, mas, mesmo assim, "batalhou para ser candidato de um governo impopular do qual fora ministro do Planejamento e da Saúde", porque estava convencido de que somente ele poderia mudar a política econômica do governo, da qual sempre fora contra. Noblat afirma que "pesquisas de intenção de voto confirmam que uma larga maioria de brasileiros quer a continuidade do governo Lula." Segundo ele, Serra sabe disso, mas pretende vencer a eleição se apresentando como o candidato de melhor currículo, o que - para o jornalista, "só empolga o eleitor, quando ele quer mudar". Serra é candidato, porque não tem escolha. Ainda lidera as pesquisas de intenção de voto, mas sabe das dificuldades a enfrentar até o dia da eleição.
Em síntese, os três artigos caminham muito parecidos e quase na mesma direção: a direção de Serra.

Abuso de absurdo

Carlos Heitor Cony (Rio de Janeiro/Folhapress), em artigo dessa semana (Expediente dobrado) chama Lula de "bom cidadão e excelente funcionário público" pelo simples fato de o presidente ter declarado, que, nessa campanha eleitoral, "dará expediente duplo e legal: de segunda a sexta-feira será presidente da República; sábados, domingos, feriados e dias santificados será cabo eleitoral de sua candidata e dos demais candidatos afins, seus aliados." Serra (PSDB) - diz ele, embora não sendo mais governador de São Paulo, fará o mesmo. Mais adiante, após descobrir que a reeleição de presidente da República não é exclusividade do Brasil, equivoca-se novamente o articulista, ao afirmar, referindo-se à reeleição, que ela "não deixa de ser uma desvantagem da democracia representativa, dando a um pretendente ao poder uma chance que não pode ser dada aos demais." Estaria ele se referindo ao presidente Lula? Creio que sim, pois vejamos o que vem seguir: "No caso de Lula, ele já vem acumulando as funções de presidente e cabo eleitoral com apetite igual." Por que somente no Brasil a reeleição é vista como desvantagem à democracia? Se Lula não é candidato, por que teria a chance a que se refere o escritor, e que não pode ser concedida a outros candidatos? Afirma Cony, que é pelo fato de ele ser o presidente da República. E as multas? Para que serve a Justiça Eleitoral, senão para fiscalizar campanhas, partidos políticos e candidaturas? No caso de Lula, não é a função que está a contar. O "peso suplementar" conferido pelo jornalista, e "que desequilibrará a igualdade de condições que seria desejável numa eleição presidencial", é a popularidade de Lula como presidente do Brasil, que já foi testada uma vez, e que será novamente agora. A ideia de Cony para que Lula renuncie à Presidência para se tornar um "legítimo" cabo eleitoral de Dilma (PT) é tão estúpida, que me custa muito admitir ter partido de uma inteligência tão lúcida quanto à do escritor carioca.
Haveria, na "democracia representativa" brasileira, espaço para tamanho absurdo?

Ironia que fede

Eliane Cantanhêde (Brasília/Folhapress) vibrou com o lançamento da candidatura de Serra (PSDB) à Presidência da República, manifestando todo seu entusiasmo em artigo dessa semana (O partido das massas cheirosas), no qual se confessa também impressionada com o que viu no encontro do partido. O que lhe chamou atenção foi, entre tantos detalhes - usando as palavras da própria articulista, a costumeira "elegância chocha tucana" ser revertida em "energia petista", nesse tipo de evento. Comparou os lançamentos das candidaturas de Dilma (PT) e Serra, e concluiu que o da mulher "foi um show protocolar", enquanto o do homem, "uma bagunça". Observou mais: que "o PSDB se esforçou para parecer um partido de massas". E, apoiando-se em "ironia" de um assessor, escreveu: "Mas massas cheirosas..." Nesse dia, Eliane estava muito atenta. Atentou até para os ônibus que transportaram os militantes e "sacou" que eram "novinhos em folha". Sobre isso, calou-se, desprezando esse pormenor. Na varredura, a jornalista tomou conhecimento de que, enquanto nos bastidores, o tucanato discutia se FHC deveria ou não discursar, na convenção, "ele foi um dos mais ovacionados". Daí pra frente, centrou atenção no discurso do candidato, destacando as bravatas dele: que os avanços brasileiros de hoje são os mesmos de 25 anos a trás, que governos são para servir ao povo e unir nações, que não devem servir a partidos políticos, que não são para estimular disputas entre pobres e ricos, e que não devem jogar governo contra oposição. E, concluindo seu leque de observações, definiu o eixo da campanha de Serra: "êxitos não são de um só homem ou de um só governo". Na visão da jornalista, para ser de massas, o partido político precisa ser "bagunçado", e - quem sabe, de "engravatados". Fora dele ficariam, portanto, os tais "descamisados", os de vestes surradas, os de chinelos, os de jibões, os desdentados, enfim. Quem sabe, se - nesse partido de massas cheirosas, só haja vagas para "aloprados" e "mensaleiros" de toda espécie. Eliane Cantanhêde não pode chegar a esse nível de observação, porque está impregnada do perfume preconceituoso dos "tucanos", que - até hoje, não se conformam com a ascenção de um nordestino pobre (isso mesmo) ao mais importante cargo da nação brasileira. Ela quis "fazer graça", apossando-se de uma ironia mal-cheirosa.
Não pegou bem.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Fernando Henrique versus Lula

Os termos do editorial de sexta-feira (09/04) de "O Liberal" são ingênuos. "Do nada a lugar nenhum" - esse é o título do artigo, ressalta a pouca (para não dizer nenhuma) qualidade do debate eleitoral, que se aproxima. Ele - o editorial, bem que gostaria que esse debate fosse ao mesmo tempo esclarecedor e formador de convicções e juízos acerca dos grandes temas de interesse nacional. Mas, quando foi que tivemos um debate desse nível? Não lembro. Lembro, sim, da eleição presidencial, em que o candidato, Fernando Collor, apresentou à população brasileira (e não apenas ao eleitor) a filha escondida de Lula. Isso foi esclarecedor? Na primeira disputa com Lula, Fernando Henrique Cardoso usou o Plano Real para se eleger. Errou? Claro, que não! Depois, reelegeu-se respaldado no controle da inflação, que dava alguma folga ao trabalhador. Que tipo de juízo esse debate formou? Não sei. Agora, o texto cobra um debate ético. Quando, em política, teve-se ética? A oposição de hoje é a situação de ontem. Hoje, invertem-se apenas os papéis. José Serra, do PSDB, não representa a oposição? Se não, de que lado está? Não tem jeito. A situação é essa. Não há meio termo. O debate eleitoral desse ano - como os anteriores, não formará convicções, até porque grande parte dessas convicções já se encontram - há muito, formadas. O eleitor minimamente "esclarecido" já sabe em quem votar, já tem o seu candidato, e fim de papo. Essa história de indecisão é conversa para boi dormir. Será que oito anos de governo Lula - assim como oito anos de Fernando Henrique, não foram suficientes para que o eleitor firmasse o seu voto, firmando, também, a sua convicção acerca dos grandes temas de interesse nacional? O aludido editorial choveu no molhado. Não disse nada além do que já se sabe. Talvez esteja tentando se desculpar ou justificar o óbvio: que a disputa eleitoral desse ano, principalmente em nível de Presidência da República, será comparativa. Oito anos de mandato para cada lado. Oito de Lula e oito de Fernando Henrique. O candidato da oposição não será José Serra. Será Fernando Henrique Cardoso, assim como o candidato do governo não será Dilma Rousseff, mas, sim, Luiz Inácio Lula da Silva. A oposição fará o papel dela - e tem mais do que razão em fazer isso: ressussitar escândalos (mensalões e aloprados) do atual governo. O governo trará à lembrança do eleitor a economia maquiada de tempos anteriores a ele. Serra será apenas um detalhe e seu governo de São Paulo não servirá de parâmetro comparativo de gestão e execução de obras e programas sociais.
O debate político - ao contrário do que preconiza o editorial, refaz-se no calor da disputa eleitoral.

Crime de uniforme

Na quinta-feira (08/04), por volta das 15 horas, dois elementos pularam o muro da escola "DomAlberto Ramos", em Curuçambá (Ananindeua), e assaltaram o professor e os alunos de uma sala de aula. Há poucos dias, na mesma localidade, outra escola foi invadida e assaltada por bandidos. O fato curioso é que - em ambos os casos, os assaltantes se faziam passar por alunos da escola, chegando a usar - inclusive, uniformes escolares, a fim de aumentar a aparência de alunos. Há que ponto chegamos! Eu já tinha "visto" bandido usar fardamento policial-militar - até da Polícia Federal, mas, bandido disfarçado de estudante é a primeira vez. Há que ponto chegou a audácia e a astúcia desses pilantras! Antigamente, quando se tentava explicar a exigência do uniforme escolar, dizia-se que era para identificar o aluno e diferenciá-lo de um provável meliante. Pelo visto, essa tese - hoje, não faz o menor sentido. Um amigo me disse, que unifome escolar se compra em qualquer lugar. E, se não se quiser comprar, rouba-se de alguém ou alguém empresta o seu para o bandido. Ninguem se encontra totalmente seguro, em lugar nenhum. Hoje, a escola - salvo raras exceções, tornou-se território livre, por onde circula gente de toda "espécie". Ninguém - em tese, traz a marca do "mal" estampada na testa, e o assaltante pode estar ao nosso lado. Por aqui, dá-se jeito para tudo, até para roubar. Só não se dá jeito para a morte. Policiamento - infelizmente, não resolve. Ameniza. Inibe. Mas, nem sempre a polícia consegue - e pode, estar presente o tempo todo em uma esola. O horário das aulas é outro problema: antigamente, o perigo corria à noite. Hoje, não tem hora para ocorrer. Nos casos das escolas de Curuçambá, os crimes se deram durante o dia. Quer dizer, o crime muda de horário, conforme a conveniência do criminoso e de sua disponibilidade de tempo.